Quem ama? O coração ou a mente? Os... Roberta Abreu

Quem ama? O coração ou a mente?

Os dois são como espelhos, cada um reflete e projeta coisas diferentes.

O coração é involuntário, é a fonte que alimenta a alma. Ele reflete nossas cicatrizes e medos de uma forma independente e por outro lado projeta nossos sonhos e fantasias, projeta aonde estará a nossa felicidade, baseada no caráter próprio de cada um.

Já nossa mente age de uma forma mais lógica e conclusiva, de uma maneira não menos independente. Com uma plasticidade maior, ela reflete nossos traumas do passado, nossas carências, falhas e ambições. É nesse ambiente inóspito que a razão tece um labirinto ao longo da nossa vida, agregando a conseqüência de cada uma das nossas experiências, sejam elas boas ou ruins.
Por outro lado ela projeta nossos desejos, comportamentos, convicções e ideais.

A diferença é que o coração tem uma grande capacidade de ser curado e se regenerar, mas por outro lado é independente e involuntário. Já a razão não se recupera da mesma maneira, já que é impossível refazer caminhos que já foram percorridos ou esquecer traumas que foram vividos, porém ela pode ser mapeada, reorganizada e controlada, como um computador.

O amor é um sentimento mais nobre de todos, está acima de tudo, mas quando ele habita somente no coração, longe da razão, vira contra nós mesmos, porque o coração perdoa, supera, esquece, sara e assim volta a se machucar causando um dano ainda maior. Quem nunca passou pela experiência de perdoar sem querer estar perdoando? De amar sem querer estar amando? De não entender porque se ama quem não merece ser amado? É assim, quando o coração domina a razão.

O pior é que as vezes nem nos damos conta de que nosso coração já se regenerou e que ele ainda ama quem não deveria amar, mas a razão não permite enxergar o que a dor nos faz lembrar. Por muito tempo negamos em admitir e lutamos para expulsar aquele sentimento que faz nosso batimento subir, nossa mão suar, nossa voz tremer e dói, como dói. Aí começa uma batalha que pode durar muito tempo, pode machucar outras pessoas, pode nos destruir, mas que vale a pena lutar, isso vale. Afinal a persistência leva à possibilidade e a vida é nossa grande aliada nessa batalha nos dando novas chances, nos mostrando novos caminhos, novos amores e assim tudo começa de novo.

Devo admitir que o esforço é maior para alguns e que a vontade de desistir as vezes incomoda, mas não há impossibilidades diante da persistência. O coração doente bate fora do ritmo e compromete o desempenho de todo o resto, da mesma forma que uma mente inóspita é como um piloto bêbado dirigindo um avião.

Acho que ambos podem amar, tanto o coração como a razão, de formas distintas. Estão sempre guerreando para disputar esse título, mas a grande vitória só é celebrada quando os dois entram em acordo e amam juntos a mesma pessoa, aí é quando acontece aquela situação rara onde damos a sorte de encontrar um amor único e especial, aquele que muitas vezes é eterno e inabalável. Aquele que é raro, mas que todos nos buscamos, incessantemente.

O coração não pode ser trapaceado, não aceita notas falsas, mas aceita trocas justas e legitimas. Negocie com seu coração! Se ele ama quem você quer esquecer, proponha a ele esquecer esse amor em troca do seu. Ame a você mesmo e faça tudo aquilo que te faz bem, se dedique a você. Mas cuidado para não achar que pode enganá-lo, se você ainda não superou um amor, não manipule seu coração para outro amor, simplesmente para satisfazer seus sonhos e ilusões. Não jogue a poeira para debaixo do tapete, porque um amor mal curado é como um fantasma que fica atormentando a todo momento e o maior prejudicado com isso é você.