As Peneiras da Saberdoria" (Uma... victor henrique silva

As Peneiras da Saberdoria"

(Uma lenda)

Meia-noite em ponto!
Mais uma jornada na construção do Templo terminara.

Cansado por mais um dia, Mestre Hiram recostou-se sob o frescor do Ébano para o tão merecido descanso. Eis que, subindo em sua direção, aproxima-se seu Mestre Construtor predileto, que lhe diz:

– Mestre Hiram... Vou lhe contar o que disseram do segundo Mestre Construtor...

Hiram com sua infinita sabedoria responde:

– Calma, meu Mestre predileto...

Antes de me contares algo que possa ter relevância, já fizeste passar a informação pelas "Três Peneiras da Sabedoria?".

– Peneiras da Sabedoria??? Não me foram mostradas, respondeu o predileto!

– Sim... Meu Mestre! Só não te ensinei, porque não era chegado o momento; porém, escuta-me com atenção: tudo quanto te disserem de outrem, passe antes pelas peneiras da sabedoria e na primeira, que é a da VERDADE, eu te pergunto:

– Tens certeza de que o que te contaram é realmente a verdade?

Meio sem jeito o Mestre respondeu:

– Bom, não tenho certeza realmente, só sei que me contaram...

Hiram continua:

– Então, se não tens certeza, a informação vazou pelos furos da primeira peneira e repousa na segunda, que é a peneira da BONDADE. E eu te pergunto:

– É alguma coisa que gostarias que dissessem de ti?

– De maneira alguma Mestre Hiram... Claro que não!

– Então a tua estória acaba de passar pelos furos da segunda peneira e caiu nas cruzetas da terceira e última; e te faço a derradeira pergunta:

– Achas mesmo necessário passar adiante essa estória sobre teu Irmão e Companheiro?

– Realmente Mestre Hiram, pensando com a luz da razão, não há necessidade...

– Então ela acaba de vazar os furos da terceira peneira, perdendo-se na imensa terra. Não sobrou nada para contar.

– Entendi poderoso Mestre Hiram. Doravante somente e boas palavras terão caminho em minha boca.

– És agora um Mestre completo. Volta a teu povo e constrói teus Templos, pois terminaste teu aprendizado.

Porém, lembra-te sempre:

as abelhas, construtoras do Grande Arquiteto do Universo, nas imundícies dos charcos, buscam apenas flores para suas laboriosas obras,

enquanto as nojentas moscas, buscam em corpos sadios as chagas e feridas para se manterem vivas...!!!

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Além da Terra...

(Carlos D de Andrade)

Além da Terra, além do Céu...
No trampolim do sem-fim das estrelas...
No rastro dos astros...
Na magnólia das nebulosas...

Além, muito além do sistema solar...
Até onde alcançam o pensamento e o coração...
Vamos!

Vamos conjugar...
O verbo fundamental essencial...
O verbo transcendente, acima das gramáticas...
Acima do medo e da moeda e da política...
O verbo sempreamar...
O verbo pluriamar...
Razão de ser e de viver!!!

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AS TRÊS EXPERIÊNCIAS...







Há três coisas para as quais eu nasci e para as
quais eu dou a minha vida.

Nasci para amar os outros, nasci para escrever,
e nasci para criar meus filhos.

"O amar os outros" é tão vasto que inclui
até o perdão para mim mesma com o que sobra.

As três coisas são tão importantes que
minha vida é curta para tanto.

Tenho que me apressar, o tempo urge.

Não posso perder um minuto do tempo
que faz minha vida .

Amar os outros é a única salvação individual
que conheço: ninguém estará perdido
se der amor e às vezes receber amor em troca.

E nasci para escrever.

A palavra é meu domínio sobre o mundo.

Eu tive desde a infância várias vocações
que me chamavam ardentemente.

Uma das vocações era escrever.

E não sei por que, foi esta que eu segui.

Talvez porque para outras vocações eu
precisaria de um longo aprendizado, enquanto
que para escrever o aprendizado é a própria
vida se vivendo em nós e ao redor de nós.

É que não sei estudar.

E, para escrever, o único estudo é
mesmo escrever.

Adestrei-me desde os sete anos de
idade para que um dia eu tivesse a língua
em meu poder.

E no entanto cada vez que eu vou escrever,
é como se fosse a primeira vez.

Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz.

Essa capacidade de me renovar toda à
medida que o tempo passa é o que eu
chamo de viver e escrever.

Quanto aos meus filhos, o nascimento
deles não foi casual.

Eu quis ser mãe.

Meus dois filhos foram gerados voluntariamente.

Os dois meninos estão aqui, ao meu lado.

Eu me orgulho deles, eu me renovo neles,
eu acompanho seus sofrimentos e angústias,
eu lhes dou o que é possível dar.

Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo.

Mas tenho uma descendência, e para
eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia.

Sei que um dia abrirão as asas para o vôo
necessário, e eu ficarei sozinha: É fatal,
porque a gente não cria os filhos para a gente,
nós os criamos para eles mesmos.

Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo
o destino de todas as mulheres.

Sempre me restará amar.

Escrever é alguma coisa extremamente
forte mas que pode me trair e me abandonar:
posso um dia sentir que já escrevi o que
é meu lote neste mundo e que eu devo aprender
também a parar.

Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.

Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer.

Amar não acaba.

É como se o mundo estivesse a minha espera.

E eu vou ao encontro do que me espera!!!