Não faço contas com o que restou de... Raimundo Santana
Não faço contas com o que restou de mim.
O que sobra não me define, não me exige,
não é raiz nem sombra — é apenas pó disperso.
O tempo não é um espelho retrovisor,
é um rio que arrasta lembranças até o mar do esquecimento.
E eu, navegante, aprendi a não confundir
os dias que florescem agora
com os fantasmas que já foram apagados da memória.
O passado não me prende,
não me dita, não me molda.
Sou feito da chama que insiste em arder no presente,
sou o instante que se ergue,
sou o corpo que se recusa a carregar ruínas.
O que ficou para trás é silêncio.
O que pulsa aqui é verdade.
E a verdade é que sigo inteiro,
mesmo sem as partes que o tempo devorou.
