Caminhei por entre a multidão e percebi... Alessandro Macena
Caminhei por entre a multidão e percebi o grande equívoco da existência moderna. As pessoas correm desesperadas, amedrontadas pela ideia da morte, sem perceberem que o verdadeiro desastre já as consumiu. Elas lutam para não morrer, mas já perderam a vida.
Perderam a vida no momento em que aceitaram a fantasia alheia como verdade absoluta; perderam a vida quando pararam de ouvir o que emana do próprio coração para seguir escritos e homens que prometem chaves para portas que eles mesmos nunca abriram. É uma ironia trágica: é melhor morrer do que perder a vida. Pois a morte é apenas o silêncio do corpo, enquanto perder a vida é o silêncio da alma que se tornou escrava.
Eu me desentreguei dessa ilusão. Desconstruí cada tijolo de aprendizado imposto para que, do nada fértil, eu pudesse finalmente dizer 'eu sou isso' com destreza. Só quem não teme o fim do fôlego é capaz de encontrar a verdade que liberta.
Eu morri sem perder a vida. Reconstruí-me pois a minha alma não estava morta. Agora, venho me reconstruindo; o homem velho em mim já não existe mais. Tornei-me amortal porque o que renasceu do zero em mim sou eu. Eu existo em mim, não na fantasia ilusória que me habitava como se fosse uma realidade.
