Enquanto os idiotas da Esquerda e da... Alessandro Teodoro

Enquanto os idiotas da Esquerda e da Direita se digladiam, o encardido aplaude a agressividade cobrada pela medonha distração coletiva.
Porque enquanto imbecis se digladiam na arena da vaidade, convencidos de que lutam por ideias, quando, na verdade, brigam por espelhos, o encardido sutilmente se acomoda na arquibancada polarizada.
Não precisa sujar as mãos: a agressividade já foi terceirizada, cobrada como ingresso para o espetáculo da medonha distração coletiva.
O ódio vira método, o grito vira argumento, e a escuta é tratada como traição.
Cada lado acredita combater o mal absoluto, sem perceber que, ao demonizar — e até desumanizar — o outro, alimenta exatamente aquilo que diz enfrentar.
A distração é tão eficiente que ninguém nota o assalto tão silencioso quanto medonho: enquanto os punhos se levantam, a consciência abaixa a guarda.
O encardido não cria o caos — ele só o administra.
Aplaude quando a raiva substitui o pensamento crítico, quando a identidade vira trincheira e a complexidade é condenada como fraqueza.
Seu aplauso é mudo, mas constante, porque toda vez que alguém prefere ferir a compreender, o trabalho está feito.
Talvez a verdadeira resistência não esteja em escolher um lado mais barulhento, mas em recusar a coreografia do ódio.
Em interromper o aplauso invisível com um gesto raro e subversivo: silêncio para pensar, coragem para escutar, humanidade para discordar sem destruir.
Se a distração acaba, o espetáculo perde público — e o encardido, enfim, deixa de sorrir.
Quando nada mais conseguir nos distrair — senão pensar com a nossa própria cabeça — os inquilinos de mentes não encontrarão tantas cabeças disponíveis e dispostas a retroalimentar essa polarização medonha.
