A PEDAGOGIA ESPIRITUAL DAS PARÁBOLAS DE... MARCELO CAETANO MONTEIRO
A PEDAGOGIA ESPIRITUAL DAS PARÁBOLAS DE JESUS.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro .
A CANDEIA E A RESPONSABILIDADE MORAL DA LUZ À LUZ DO ESPIRITISMO.
Mateus 5:15-16.
Marcos 4:21-25.
Lucas 8:16-18 e 11:33-36.
A Parábola da Candeia, conforme registrada nos Evangelhos segundo Mateus, Marcos e Lucas, constitui um dos ensinamentos mais densos e moralmente exigentes do Cristo. À luz da Doutrina Espírita, essa parábola adquire contornos ainda mais amplos, pois a luz ali mencionada não se restringe à crença exterior ou ao símbolo religioso, mas refere-se ao grau de consciência espiritual conquistado pelo Espírito em sua marcha evolutiva.
A candeia representa o conhecimento da verdade espiritual progressivamente revelada à humanidade. É a luz do Evangelho interpretado pela razão, iluminado pela fé raciocinada e confirmado pela experiência moral. Trata-se do patrimônio íntimo do Espírito que compreende as leis divinas e reconhece sua responsabilidade perante a própria consciência. Não é dom estático, mas conquista dinâmica, que exige aplicação constante no campo das relações humanas.
O esconder a candeia sob o alqueire ou sob a cama simboliza, sob a ótica espírita, a negligência moral daquele que conhece o bem, mas se omite em praticá-lo. É a dissociação entre saber e viver. O Espírito que já percebe as leis da causa e efeito, da responsabilidade pessoal e da solidariedade universal, mas permanece inerte, retém a luz apenas para si, retardando o próprio progresso e deixando de colaborar com a educação moral coletiva.
O velador, por sua vez, representa o lugar do testemunho consciente. Colocar a luz em destaque não significa proselitismo verbal, mas coerência existencial. É viver de tal modo que os princípios espirituais se expressem naturalmente em atitudes, escolhas e renúncias. No Espiritismo, a verdadeira propaganda da fé é o exemplo. A luz elevada não se impõe, mas convida. Ela esclarece sem ferir e orienta sem dominar.
Quando o Cristo afirma que os olhos são a lâmpada do corpo, adentra-se o campo da psicologia espiritual. Para o Espiritismo, os olhos simbolizam o modo como o Espírito interpreta a vida. Um olhar bom corresponde a uma consciência educada, capaz de discernir o bem mesmo em meio às provas. Um olhar enfermo traduz paixões desordenadas, ilusões do ego e apego às aparências transitórias. Assim, a luz que irradia do Espírito depende da qualidade moral com que ele percebe e interpreta a realidade.
O ensinamento acerca da revelação do que está oculto harmoniza-se plenamente com a lei de progresso. Nada permanece eternamente velado. O Espírito é convidado, existência após existência, a trazer à luz suas potencialidades adormecidas e também a enfrentar as sombras que ainda carrega. A verdade, cedo ou tarde, emerge, seja para libertar, seja para educar pela experiência reparadora.
À luz da Doutrina Espírita, a Parábola da Candeia é um chamado direto à responsabilidade evolutiva. Receber a luz do conhecimento espiritual implica compromisso com sua vivência. Não basta compreender as leis divinas, é necessário encarná-las no cotidiano, transformando o saber em virtude e a fé em ação consciente. A candeia acesa no íntimo do Espírito só cumpre sua finalidade quando ilumina o caminho próprio e o daqueles que caminham ao redor, contribuindo silenciosamente para a construção de um mundo moralmente mais lúcido e espiritualmente mais digno.
O ensinamento da candeia que não deve ser colocada sob o alqueire constitui um dos núcleos mais sofisticados da pedagogia moral de Jesus. Nele não se trata apenas de divulgação da verdade, mas do modo como a verdade deve ser oferecida à consciência humana. O Cristo não propõe um iluminismo abrupto, mas uma educação gradual da alma, respeitando as leis do progresso espiritual.
Quando afirma que ninguém acende uma candeia para ocultá la, Jesus estabelece um princípio universal. A verdade existe para iluminar. Contudo, ao falar por parábolas, Ele mesmo cria um véu simbólico. Esse aparente paradoxo é resolvido quando se compreende que a luz espiritual não pode ser violenta. A verdade imposta antes do amadurecimento interior produz resistência, medo ou negação. Allan Kardec esclarece esse ponto ao afirmar que toda revelação divina é progressiva e proporcional à capacidade moral e intelectual da humanidade. O Evangelho segundo o Espiritismo capítulo 24.
O cerne do artigo reside exatamente nessa adequação pedagógica. As parábolas não escondem a verdade. Elas a protegem. Funcionam como arquétipos morais que se adaptam ao nível de consciência de quem escuta. Psicologicamente falando, isso corresponde ao que hoje se compreende como assimilação simbólica. A mente humana integra primeiro imagens e narrativas antes de alcançar conceitos abstratos profundos. A psicologia analítica moderna reconhece que símbolos são instrumentos de amadurecimento psíquico e não obstáculos ao conhecimento.
Jesus afirma aos discípulos que a eles foi dado conhecer os mistérios do Reino. Não por privilégio arbitrário, mas porque já haviam desenvolvido disposição interior para tal. Léon Denis aprofunda essa ideia ao ensinar que o conhecimento espiritual é sempre consequência do esforço moral. A verdade não se concede. A verdade se conquista pela elevação do sentimento e da razão. Cristianismo e Espiritismo.
Outro ponto expressivo do texto é a advertência de que nada permanecerá oculto. Aqui não se fala de revelação externa, mas de maturidade interna. Quando a consciência desperta, ela mesma busca a luz. É nesse momento que colocar a candeia sob o alqueire torna se um erro. Joanna de Ângelis, dialogando com a psicologia profunda, ensina que a repressão do conhecimento gera conflitos internos, culpa neurótica e fé infantilizada. A fé que não dialoga com a razão adoece. Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda.
Raul Teixeira reforça esse ponto ao afirmar que a fé esclarecida é libertadora porque nasce da compreensão e não do medo. Quando a razão desperta e não encontra luz, o espírito desfalece. Por isso o Espiritismo surge historicamente como a retirada do alqueire, oferecendo explicações racionais sobre a vida, a dor, a justiça divina e o destino da alma.
Do ponto de vista da psicologia contemporânea, esse ensinamento dialoga com o conceito de desenvolvimento moral progressivo. Nenhum indivíduo salta da infância psíquica para a maturidade sem etapas. A espiritualidade saudável acompanha esse ritmo. A imposição precoce de conteúdos transcendentais gera dissociação ou fanatismo. A omissão prolongada gera vazio existencial.
Jesus portanto ensina quando calar e quando falar. O silêncio não é omissão. É estratégia de amor. A palavra não é virtude quando não encontra solo fértil.
CONCLUSÃO.
A candeia de Jesus não é uma tocha que incendeia consciências imaturas, mas uma luz colocada no ponto exato onde pode esclarecer sem ferir. As parábolas são o método do Cristo para respeitar o tempo da alma. Quando a humanidade atinge determinado grau de maturidade, ocultar a luz deixa de ser prudência e passa a ser negligência. Nesse estágio, a fé exige a razão, a crença pede compreensão e o espírito reclama verdade clara. Retirar o alqueire é um dever moral quando a consciência já aprendeu a olhar sem temer a luz.
