EM BUSCA DO BEM-ESTAR: UMA TRAVESSIA DO... Marcelo Caetano Monteiro

EM BUSCA DO BEM-ESTAR: UMA TRAVESSIA DO ESPÍRITO ENTRE AS SOMBRAS DA HISTÓRIA.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.

Desde o alvorecer da civilização, o ser humano tem buscado o bem-estar como se este fosse um prêmio a ser conquistado fora de si. Nas cortes antigas, nas arenas sangrentas, nas fogueiras inquisitoriais ou nos palcos políticos modernos, o homem perseguiu o prazer, o poder e a glória, julgando-os sinônimos de felicidade. No entanto, Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, revelou que o verdadeiro bem-estar não nasce das circunstâncias externas, mas do aperfeiçoamento interior, da harmonia entre o espírito e a Lei de Deus, essa lei imutável que rege a ordem moral do universo.

A partir dessa ótica, cada questão apresentada na Codificação Espírita funciona como um espelho da alma humana, revelando tanto a grandeza quanto as distorções que o afastam da paz interior.

1. O Bem e o Mal (Questão 629): A Ética Dilacerada
O bem, ensina Kardec, é o que está conforme à Lei de Deus; o mal é tudo o que dela se afasta. Essa definição simples, porém absoluta, é o eixo moral que separa a luz da sombra. Os grandes carrascos da humanidade, de Nero a Torquemada, de Hitler a tantos outros déspotas modernos, foram homens que confundiram força com autoridade e prazer com poder. Em nome de suas paixões, inverteram a bússola do bem, e o resultado foi o sofrimento coletivo. A distorção moderna repete o mesmo erro em escala sutil: a busca incessante por status, consumo e aparência é apenas a versão contemporânea das antigas tiranias. Quando o egoísmo governa, o bem-estar torna-se miragem, pois o homem se divorcia de sua própria alma.

2. Educação Moral (Questão 899): A Formação da Consciência.
Kardec diferencia a instrução da educação moral. Enquanto a primeira ilumina o intelecto, a segunda depura o caráter. Desde os impérios antigos até os sistemas educacionais de hoje, a humanidade tem privilegiado o acúmulo de saber técnico, esquecendo-se da lapidação interior. Roma formou generais, mas poucos sábios; a Idade Média ergueu catedrais, mas obscureceu consciências; o século XXI fabrica gênios digitais, mas não ensina a sentir. O resultado é um vazio adornado de tecnologia, onde o conhecimento se divorcia da sabedoria e o bem-estar se perde na ansiedade e na competição.

3. Lei do Trabalho (Questão 670): O Dever como Fonte de Equilíbrio.
O trabalho, diz Kardec, é necessidade e dever. É a lei do progresso e da sustentação moral. Quando o homem o realiza em consonância com o bem, ele eleva-se; quando o degrada à escravidão material, ele se corrompe. Desde as galés romanas e as minas coloniais até as fábricas da Revolução Industrial, o trabalho foi muitas vezes sinônimo de martírio. Hoje, o extremo oposto também corrompe: a busca do lucro sem ética, a idolatria da produtividade e o desprezo pela pausa interior transformam o homem em servo de seus próprios mecanismos. Trabalhar deixou de ser ato criador e passou a ser vício existencial. E o bem-estar, outrora reflexo da dignidade, tornou-se sintoma de cansaço.

4. Lei do Progresso (Questão 777): A Ilusão da Modernidade.
Kardec lembra que o progresso é destino inevitável, mas que o moral deve acompanhar o intelectual. A história, porém, mostra o desequilíbrio dessa marcha. O homem criou máquinas, mas não soube dominar seus instintos; ergueu cidades luminosas, mas obscureceu o coração. Dos campos de extermínio do século XX aos conflitos digitais do século XXI, a humanidade evoluiu em instrumentos, mas não em princípios. O progresso divorciado da ética cria conforto físico e miséria espiritual. Kardec anteviu essa crise moral: o bem-estar não é o repouso do corpo, mas a serenidade da consciência.

5. Conhece-te a Ti Mesmo (Questão 919): A Porta do Retorno.
O sábio da Antiguidade citado por Kardec, Sócrates indicava que a chave de toda regeneração é o autoconhecimento. Sem esse mergulho interior, o homem repete séculos de erro. A história humana é um ciclo de ignorância disfarçada de civilização. Só quando o espírito examina suas intenções, domina seus impulsos e busca o dever pelo dever é que a paz verdadeira se instala. O autoconhecimento não é introspecção ociosa, mas ciência moral do ser, caminho de reencontro com a centelha divina que dorme em cada consciência.

Síntese Filosófica.
O bem-estar, em Kardec, é o coroamento do equilíbrio entre o intelecto e a moral, entre o trabalho e o amor, entre o progresso e a fé. O homem moderno, seduzido pelas facilidades, esqueceu-se dessa harmonia. A sociedade tornou-se um mosaico de desejos, não de virtudes. A felicidade foi confundida com prazer, a liberdade com desobediência, o sucesso com vaidade. O resultado é o mesmo das antigas tragédias: inquietude, vazio e dor.

Mas o Espiritismo, em sua lucidez pedagógica, reergue a esperança. Ele recorda que o bem-estar autêntico não se compra, conquista-se pelo esforço diário de reforma íntima. É obra silenciosa, mas gloriosa. Cada ato justo, cada pensamento puro, cada renúncia iluminada é uma pedra na construção do paraíso interior que o espírito deve habitar antes de merecer mundos melhores.

Conclusão Motivacional
Enquanto o homem buscar o bem-estar fora de si, continuará escravo das ilusões que o aprisionam. Mas no instante em que voltar-se para o interior, reconhecendo que a verdadeira felicidade nasce da harmonia com a Lei de Deus, o espírito reencontrará a paz perdida e reerguerá, sobre as ruínas do egoísmo, o templo imperecível do seu real estado consciencial de ser como Espírito.