SANGUE DE PRETO Caçados e acorrentados,... agape.pereira
SANGUE DE PRETO
Caçados e acorrentados,
homens e mulheres,
por um povo diferente,
tribo de brancos como as nuvens do céu,
traídos pelos nossos, ao léu!
No barco, um balanço tonteante,
e o barulho do chicote constante.
Eu, sem saber, sem entender,
escutava o choro e o gemido
de um povo que estava ali sem querer:
um povo tirado de sua terra natal
para servir como animal.
Pés e mãos acorrentados,
mulheres seguravam seus filhos
adoentados, desmaiados.
Só se escutavam os gritos
e o barulho daqueles que nos faziam mal.
Meu povo é guerreiro,
mas naquele momento,
só choro e gritos de medo.
Gritos que perpetuaram por tal ação,
longos dias, com tanta trucidação.
Meus irmãos, irmãs,
sendo jogados ao mar,
pois já escasso estava o que alimentar.
É sangue, sangue de preto,
no chão onde à noite me deito.
Na calada da noite, murmúrio:
Caçados e acorrentados,
homens e mulheres,
por um povo diferente,
tribo de brancos como as nuvens do céu,
traídos pelos nossos, ao léu!
No barco, um balanço tonteante,
e o barulho do chicote constante.
Eu, sem saber, sem entender,
escutava o choro e o gemido
de um povo que estava ali sem querer:
um povo tirado de sua terra natal
para servir como animal.
Pés e mãos acorrentados,
mulheres seguravam seus filhos
adoentados, desmaiados.
Só se escutavam os gritos
e o barulho daqueles que nos faziam mal.
Meu povo é guerreiro,
mas naquele momento,
só choro e gritos de medo.
Gritos que perpetuaram por tal ação,
longos dias, com tanta trucidação.
Meus irmãos, irmãs,
sendo jogados ao mar,
pois já escasso estava o que alimentar.
É sangue, sangue de preto,
no chão onde à noite me deito.
Na calada da noite, murmúrio:
— Meu Deus, meu Deus,
por que nos abandonaste?
Criaturas desalmadas,
que além de tudo isso,
ainda nos faziam assistir
nossas mulheres serem violentadas.
É sangue, sangue de preto,
no chão onde à noite me deito.
Preto sem eira nem beira,
forçado a dormir
sobre a própria sujeira.
É sangue, sangue de preto,
no chão onde à noite me deito.
De longe, consigo ver terra firme!
Uma ponta de esperança
renasce em meu coração.
Chegando, sou chamado
de Preto João!
Sinto a areia entre meus dedos,
e com o resto das minhas forças
tento escapar.
Escuto um estrondo —
meu peito começa a sangrar!
— Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?
É sangue, sangue de preto,
na areia onde, por fim, me deito.
O tempo passou, o chicote calou,
mas a dor no peito não se apagou.
Mudou o discurso, mudou até a nação,
mas tem muita gente com a alma de trabalhador nas mão.
A única coisa que mudou, então,
foi o nome dos patrão —
antes chamados de senhorzinho,
agora têm CNPJ e razão!.
