EMMANUEL: O PEREGRINO DA IMORTALIDADE E... Marcelo Caetano Monteiro

EMMANUEL: O PEREGRINO DA IMORTALIDADE E O ARAUTO DA LUZ INEXTINGUÍVEL.

À sombra dos milênios que se sucedem como ondas do tempo, ergue-se a figura augustal de Emmanuel, espírito venerando cuja trajetória, marcada por quedas e ascensões, se converte em testemunho vivo da pedagogia divina que conduz cada criatura do pó das vaidades ao fulgor imperecível da consciência desperta. Revelado ao mundo contemporâneo pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, Emmanuel não é apenas mentor, mas peregrino das eras, trincheira de sabedoria, e eco sublime das lições imarcescíveis do Cristo.

A narrativa de sua longa caminhada inicia-se por volta de 79 a.C., quando, revestido da personalidade de Públio Lentulus Sura, ocupava posição de poder na Roma antiga, cercado pelos nomes ciclópicos de Júlio César, Cícero e Catilina. Era homem altivo e impiedoso, convicto de si e enredado pela crença de que seu destino era governar a cidade eterna. O orgulho, seu cetro invisível, conduziu-o às sombras, culminando na condenação à morte em 63 a.C., quando sua existência material se extinguiu sob as mãos firmes da justiça daquele tempo.

Quase um século depois, renasce como Públio Lentulus Cornelius, senador do Império Romano, bisneto de si mesmo, herdeiro tanto do poder ancestral quanto dos equívocos espirituais que o seguiam como sombras longínquas. Nobre, mas ainda prisioneiro das ilusões mundanas, uniu-se em matrimônio a Lívia, mulher de notável grandeza moral, cuja alma se inclinara às vibrações nascente do Cristianismo. Desta união nasceram Flávia Lentúlia e Marcus.

Era a pequena Flávia, tragada pela dor da lepra, que o destino utilizaria como ponte luminosa entre a vaidade de ontem e a renovação de amanhã. Designado pelo imperador Tibério para alto cargo na Palestina, o senador encontrou no clima ameno de Cafarnaum a esperança de melhorar a saúde da filha. Ali, pela insistência amorosa de Lívia, buscou o Rabi da Galileia. E, mesmo sem desejar abordá-lo, foi alcançado por Ele.

Esse encontro, tecido em silêncios crepusculares, tornou-se marco eterno. O Nazareno aproximou-se dele como quem já o conhecia desde eras remotas. O senador, tomado de emoção, curvou-se ante a beleza soberana daquela Presença. As lágrimas, que raramente visitavam sua face, brotaram abundantes. E Jesus, com gesto fraterno e altíssimo, pousou-lhe a mão sobre a fronte, transmitindo ao seu espírito a linguagem que não se escreve com palavras, mas vibrações imortais.

Do encontro resultou a cura da filha. Contudo, Públio, embora tocado, recusou-se a seguir o Mestre. Preferiu Mamon ao Cristo. Guardou silêncio ante a condenação do Justo. Escondeu de si mesmo a verdade que o havia visitado. E retornou às ambições políticas, apenas vindo a aceitar o Evangelho nos derradeiros instantes de sua existência terrena, quando a erupção do Vesúvio engoliu Pompéia em cinzas e fogo, selando o fim de sua jornada corporal no ano 79 da nossa era.

Séculos mais tarde, no prefácio de “Há Dois Mil Anos”, ele próprio, já desperto, confessa: “As recordações têm sido suaves, mas profundamente dolorosas. Suaves pela memória das almas queridas, e amargas porque não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio de minha vida de Espírito”.

Eis o selo de sua humildade, a marca da consciência que desperta pelo amor e pelo arrependimento.

Do padre Manoel da Nóbrega ao Mentor de Chico Xavier.

Em 1971, no histórico Pinga Fogo, Chico Xavier confirmou que Emmanuel fora o Padre Manoel da Nóbrega, o eminente jesuíta que pisou o solo brasileiro no século XVI para semear sementes do Evangelho na Terra de Santa Cruz. Movido por remorsos de experiências passadas ligadas ao “crê ou morre” da Inquisição, Emmanuel renasce como Nóbrega para servir, para descer, para aprender o idioma da humildade, convivendo com o indígena, o degredado, o colono rude, plantando, com suor e renúncia, os alicerces do bem.

A grandiosa missão continua no século XX, agora como mentor de Francisco Cândido Xavier. Emmanuel, espírito cuja grandeza ecoa pelos livros e pelas lições deixadas, acompanhou Chico por décadas de trabalho abnegado. Da psicografia às reuniões de desobsessão, dos atendimentos fraternos às noites de lágrimas, jamais abandonou o médium que lhe fora confiado. Sua obra, vasta, elevada, profundamente evangélica, compõe-se de mais de uma centena de livros, entre eles os romances históricos que revelam suas próprias reencarnações e análises evangélicas que o consagraram como “o quinto evangelista”.

Palavras que permanecem como brasas vivas.

De suas obras brotam pensamentos que se tornaram bússolas da alma:

A cólera nada resolve e apenas denuncia nossas sombras antigas.
O verbo cria e transforma.
A queixa é vício que desvia o espírito do dever.
Toda ascensão exige esforço.
A lei do amor sobreviverá a todos os escombros humanos.
As portas do Céu sempre estiveram abertas.
A crise é fonte renovadora para quem tem esperança.
Nosso corpo espiritual reflete o céu ou o inferno que trazemos.
E, por fim, a soberana sentença do Cristo: só o amor permanece.

Tais frases não são meras linhas, mas sementes luminosas deixadas na terra fértil da consciência humana.

Tributo e honra ao peregrino da luz.

A trajetória de Emmanuel atravessa Roma, Palestina, Pompéia, Portugal, Bahia, São Vicente, Piratininga e Minas Gerais. Une o passado ao presente em laços que só a eternidade compreende. Sua alma, marcada pelas quedas e pelo serviço, tornou-se exemplo de que ninguém está condenado ao erro. Nem o poderoso que tomba, nem o orgulhoso que se perde, nem o coração que hesita. Todos somos chamados, repetidas vezes, ao recomeço.

A grandeza de Emmanuel não está nas posições que ocupou, mas na humildade com que, após séculos de lutas e aprendizados, dobrou-se à luz divina e entregou-se ao serviço do Cristo. Seu testemunho é o de um espírito que, depois de experimentar o mando, a riqueza, a vaidade, aprendeu a ciência maior: a ciência do amor.

Conclusão: O Legado que Ressoa na Eternidade.

Emmanuel, esse luminoso peregrino das eras, não é apenas personagem histórico ou mentor espiritual. É lição viva sobre a capacidade infinita que o espírito humano possui de renascer, depurar-se e ascender. Seu percurso demonstra que nenhuma queda é definitiva, que nenhuma culpa é eterna, que a misericórdia divina nos alcança sempre que abrimos espaço para ela no coração. Ele nos ensina que o Cristo não nos exige perfeição imediata, mas o esforço sincero de cada dia, a coragem de recomeçar e a fidelidade ao bem.

Ao contemplar sua história, somos convidados a contemplar também a nossa. Pois todos nós, à maneira dele, caminhamos entre sombras e claridades, chamados a escolher, a cada instante, entre a voz silenciosa do amor e as seduções frágeis do mundo.

Que sua presença imortal continue a inspirar nossos passos, a entreabrir horizontes, a reacender a chama íntima que nos impele rumo ao Alto. Que possamos, enfim, aprender com ele que a verdadeira grandeza reside na humildade que serve, no amor que sustenta e na fé que ilumina.