O Jardim Entre Nós… Nos dois existe... Yuzo Canguçu

O Jardim Entre Nós…


Nos dois existe um tipo de escuridão que não assusta — apenas reconhece. Um silêncio antigo que sempre carregamos, cada um à sua maneira, antes mesmo de nos encontrarmos. Talvez por isso nosso amor não tenha nascido de pressa; foi brotando devagar, como luz filtrando por frestas em ruínas. Cresceu nas feridas que fingíamos ignorar, nas noites onde o mundo parecia absurdo demais, pesado demais, inútil demais. E, mesmo assim, ali — no território quebrado que somos — algo floresceu.


Não somos criaturas feitas para caber em moldes. Somos metamorfoses ambulantes, contraditórios, instáveis como o próprio Absurdo que Camus descreveu. E ainda assim, quando estamos juntos, a contradição não dói: ela respira. Você, com essa intensidade que corta a escuridão como um relâmpago, me lembra que a beleza não foi feita para ser domada. Eu, com minhas cicatrizes filosóficas, com esse cansaço de quem tentou encontrar sentido em todas as religiões e em nenhum deus, vejo em você a promessa de algo que o mundo não conseguiu destruir.


Não somos certos nem errados — somos apenas. E, no meio do caos, isso é quase um milagre.


O jardim entre nós não é feito de flores dóceis. Ele nasce de raízes fundas, regado por dores que sobrevivemos, por noites onde a vida parecia uma piada cósmica sem graça nenhuma. Mas é justamente ali, onde tudo deveria desabar, que nós persistimos.
Entre espinhos e sombras, entre o que eu fui e o que você ainda descobre ser, existe um espaço que o mundo não alcança: nosso caos transformador, que insiste em se tornar beleza.


Nesse jardim torto, indomável, improvável — você e eu encontramos aquilo que jamais buscamos: redenção.
A minha na sua loucura luminosa.
A sua no meu absurdo cansado.
E o “nós”… no milagre secreto de continuar florescendo onde ninguém mais acreditaria.

Y.C (Para Allanna)

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