Eu a amei — mas devia ter me amado... Nilton H. F. Neves

Eu a amei — mas devia ter me amado mais.
Eu a quis — mas devia ter me tido em paz.
Fiquei parado no tempo, preso ao que sonhei,
achando que era pra vida… e aprendi do jeito que não pensei.


Amei demais.
E hoje eu me olho por trás,
e fico perguntando:
por que não notei sinais?
Por que não lutei, não fiquei, não quis mais?


A resposta veio fria,
veio crua, veio voraz:
é que eu já não me tinha,
eu tava longe demais.


Distante de mim,
longe de ser
o que eu queria sentir,
o que eu queria viver.
Então deixei ir…
porque não tinha o que oferecer.


Agora eu me encaro e me pergunto:
por que é que eu me quero mais?
O que faz eu me querer profundo
se já não tenho aquilo que eu queria atrás?


Sinto o peito oco,
sinto o mundo mudo,
sinto o passo curto,
sinto o fio seco, bruto.
É neblina densa cobrindo o que sou,
é o silêncio de tudo aquilo que já me guiou.


Mas mesmo assim…
eu me quero mais.
Quero paz, quero força, quero voltar capaz.
Quero brigar por mim, por tudo que perdi,
quero viver demais, mesmo depois do que já vivi.


Eu quero paz.
E querer paz
é finalmente querer ser meu —
de verdade —
de uma vez por todas
e nunca menos,
nunca mais.