Poema: Senzala Autor: Wélerson... Wélerson Recalcatti

Poema : Senzala
Autor : Wélerson Recalcatti


Por tantos dias estive neste calabouço de ferro
Navegando nas águas salgadas do mar
Finalmente esta longa viagem encerro
Espero que o sofrimento não tarde passar


Exausto desta terrível incerteza
Saudades de casa, não sei se vou voltar
Maltratado pela mão sanguinária burguesa
As marcas no corpo me fazem sangrar


Que cruel destino a que fui exposto
Nunca imaginei tamanho sofrimento
Ainda vertem as lágrimas frias do rosto
Mas na minha fé ainda busco alento


Faço minha oração a Deus implorando
Mas sou um dos poucos que ainda tem fé
Suplico pelos irmãos que não estão orando
Pois quase nem conseguem ficar em pé


Eu digo a vocês que se houver um Deus lá em cima
O homem maldito então terá que pagar
Pois nas costas negras ele tanto assina
Com seu chicote de aço que vai castigar


Entre sangue e lágrimas eu caio no chão
Frio e sem vida, de corpo a mortalha
Devastado pelos traços desta escravidão
Repouso no silêncio mortal da batalha


Onde deixo este mundo preso às correntes
Minha alma não vive, minha boca se cala
Morro então neste sangrento ambiente
Entre as paredes escuras desta imunda senzala