Perdoar não é esquecer, é deixar de... Douglas Duarte de Almeida

Perdoar não é esquecer, é deixar de apodrecer por dentro. Há dores que o tempo não cura, apenas decanta. O perdão não é o antídoto do veneno, é a coragem de não bebê-lo mais. É olhar para a ferida e, em vez de perguntar “por quê?”, perguntar “até quando?”.

O perdão é uma escolha sofisticada. Não por bondade, mas por lucidez. É quando a alma entende que continuar punindo o outro é continuar se amarrando na mesma corda. E há cordas que, se a gente não solta, acabam nos enforcando em silêncio.

Perdoar não é absolver o erro, é devolver o peso. É dizer: “isso foi teu, não meu”. É o ato mais elegante de liberdade.

Porque guardar rancor é carregar um corpo morto nas costas achando que é proteção. Às vezes, o perdão não vem como gesto, vem como distância. Como aquele passo que você dá pra fora da repetição, sem plateia, sem discurso, sem aviso.

Há perdões que se dão em silêncio, e há silêncios que são o perdão em estado puro. Perdoar não é voltar — é seguir. É olhar pra trás sem desejar vingança, sem querer justiça divina, sem precisar de testemunhas. É só entender que o que te feriu não merece mais residência no teu coração.

O perdão, no fim, é uma forma de amor próprio altamente evoluída — a mais discreta e, talvez, a mais revolucionária.

(Douglas Duarte de Almeida)