Frederico Fígner – Rachel Vive! Numa... MARCELO CAETANO MONTEIRO
Frederico Fígner – Rachel Vive!
Numa época em que o materialismo ameaçava sepultar as esperanças humanas e o próprio ideal cristão da imortalidade parecia dissolver-se no mito, a sobrevivência da alma encontrou um novo alicerce as materializações de seres inteligentes, que se identificavam como habitantes do além.
Essas experiências, fruto do esforço heróico dos médiuns de efeitos físicos, ultrapassavam o simples fenômeno: eram reencontros de amor, lições de fé, bálsamos para a dor. No Brasil, esse movimento encontrou terreno fértil nas experiências pioneiras da família Prado, em Belém do Pará, seguidas por médiuns notáveis como Carmine Mirabelli, Antônio Alves Feitosa, Peixotinho e o próprio Chico Xavier.
Os efeitos psicológicos e sociais dessas manifestações são incalculáveis. Muitos corações, antes feridos pela saudade, transformaram-se em templos de serenidade, e consciências endurecidas pelo ceticismo abriram-se à compreensão da vida espiritual. Mas talvez ninguém tenha sentido tão fundo essa revolução interior quanto Frederico Fígner, o notável empresário e apóstolo da fé raciocinada, homem de origem israelita e coração brasileiro.
Foi ele quem, em plena maturidade, viu a filha amada, Rachel, materializar-se diante dos olhos da família, sob a mediunidade luminosa de Eurípedes Prado.
A notícia, que correu os jornais da época, despertou curiosidade e polêmica. O próprio Fígner, com a serenidade de um homem acostumado à razão, concedeu uma entrevista para esclarecer os fatos.
“Deseja o senhor que lhe relate os fenômenos por mim presenciados e produzidos com a privilegiada mediunidade da Sra. Eurípedes Prado? Pois não, Sr. Redator, com muito prazer. Vou dar-lhe alguns pormenores que presenciamos, eu e minha família, em três sessões riquíssimas de fenômenos.
Vim não por curiosidade sabia ser a materialização um fato comprovado por Crookes, em Londres, desde 1871, com a aparição de Katie King, pela médium Florence Cook , mas com o fito de aliviar a dor de minha esposa, abatida pela desencarnação de nossa filha muito amada.”
Eurípedes Prado, ainda convalescente, viajou sete dias, atendendo ao apelo de Fígner. A sessão teve lugar em ambiente de respeito e recolhimento. A presença espiritual se manifestou em forma densa, visível e tocável. Rachel, que partira há meses, surgiu sorridente, vestida de branco, com o mesmo olhar sereno de quando viveu na Terra.
A mãe, vencida pela emoção, mal podia conter o pranto. Frederico, atônito, testemunhou o impossível tornar-se realidade.
Diante de tal reencontro, o homem da ciência e dos negócios cedeu espaço ao pai o pai que se ajoelha diante do mistério do amor que não morre.
Fígner não buscou publicidade nem aplausos. Limitou-se a testemunhar, com a dignidade de quem sabe que os fatos falam por si. Sua experiência não apenas consolou a família: transformou-se em marco histórico da comprovação espiritual no Brasil, reforçando a ponte entre ciência e fé que William Crookes havia iniciado na Inglaterra.
Desde então, a memória de Rachel deixou de ser lembrança dolorosa para tornar-se certeza imortal.
O homem que fundara a Casa Édison símbolo do progresso material compreendeu, enfim, que há um outro tipo de luz que nenhuma lâmpada fabrica: a luz da vida eterna.
“Rachel vive!” — dizia ele, comovido, aos que o interpelavam.
E, com essa frase, iluminou o caminho de incontáveis corações que choravam seus mortos, mostrando-lhes que, em verdade, ninguém morre.
