O VAZIO EXISTENCIAL. E o Enigma da... Marcelo Caetano Monteiro

O VAZIO EXISTENCIAL.

E o Enigma da Esfinge: A Jornada do Espírito em Busca de Si Mesmo.

Introdução.

Vivemos em tempos em que o silêncio interior grita. Em meio a uma sociedade hiperconectada, cresce o número de pessoas que, apesar de rodeadas por estímulos e conquistas, sentem-se vazias. Este vazio não é apenas psicológico: é espiritual. É a ausência de sentido, de direção, de identidade profunda — o que Viktor Frankl chamava de “vácuo existencial”, que corrói lentamente a alma humana.


O Espiritismo surge, nesse contexto, como chave libertadora, oferecendo não apenas respostas racionais, mas um sentido espiritual para a existência humana, uma proposta de imortalidade ativa, de evolução contínua e de reencontro com a própria essência divina.


Para ilustrar esse enfrentamento interior, retornamos a um dos mitos mais poderosos da tradição grega: Édipo e a Esfinge, onde o enigma que desafia o herói é, na verdade, o mesmo que desafia a humanidade em sua jornada evolutiva — “Conhece-te a ti mesmo”.


O Vazio Existencial: Quando a Alma se Esquece de Si.


Segundo Allan Kardec, o Espírito reencarna para evoluir, reparar e crescer moralmente. Quando, porém, esse Espírito encarnado se desconecta da finalidade maior da vida, perde-se nos labirintos da matéria, nas ilusões do ego e nas conquistas efêmeras. O resultado é o vazio existencial.


“. 132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?


“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.”


A.K.: A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus, porém, na Sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar Dele. Deste modo, por uma admirável lei da Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza."


A Doutrina Espírita afirma que a vida tem uma finalidade superior e que todas as dores e inquietações são degraus para a luz. Como ensina Léon Denis:


“O vazio que sentimos não é senão o apelo do infinito que nos habita.”

(O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XV, FEB.)

* Saibamos compreender essa frase.


O Enigma da Esfinge: A Batalha do Eu com o "Destino".


Na mitologia grega, a Esfinge era um ser monstruoso que aterrorizava os habitantes de Tebas, propondo um enigma a todos os que por ali passassem:


“Qual o animal que pela manhã anda com quatro patas, ao meio-dia com duas e à noite com três?”


A resposta — o homem — foi dada por Édipo, o único que decifrou o enigma e libertou a cidade. A Esfinge, vencida pela inteligência e coragem, atirou-se ao abismo.


Mas o verdadeiro mistério por trás dessa história está no sentido simbólico da jornada de Édipo. A Esfinge é o desconhecido interior, o desafio do autoconhecimento. O enigma que ela propõe é o da própria condição humana, marcada por transformações, fragilidades e descobertas.


Édipo não vence pela força, mas pela capacidade de compreender a própria natureza humana — a infância de quatro apoios (manhã), a maturidade ereta (meio-dia), e a velhice apoiada na bengala (noite).


“Conhece-te a ti mesmo” — este lema inscrito no templo de Delfos e repetido por Sócrates ecoa com força também na Codificação Espírita:


“Conhecer-se a si mesmo é a chave do progresso individual.”

(O Livro dos Espíritos, questão 919a.)


Espiritismo: A Resposta ao Enigma da Existência.


Se a Esfinge é o símbolo do vazio, do mistério da vida e da dor, o Espiritismo é o escudo e a resposta. A Doutrina Espírita propõe que somos Espíritos imortais em experiência terrena, e que o sofrimento, a dúvida, a solidão e até o vazio têm razão de ser e prazo de validade, se vistos à luz da reencarnação e da lei de causa e efeito.


“O homem de bem se conhece pelo esforço constante que faz para domar suas más inclinações.”

(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4.)


A Doutrina também resgata a dimensão terapêutica da fé. Brian Weiss, em suas regressões terapêuticas, demonstra que o sofrimento atual frequentemente está ligado a experiências não compreendidas de vidas passadas — e que o autoconhecimento espiritual cura e liberta sem se fazer mister perambular alhures pelo pretérito existencial,as inclinações atuais no-las denunciam:


“A cura começa quando compreendemos que somos mais do que esta vida.”

(WEISS, Brian. Muitas Vidas, Muitos Mestres. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.)


O Objetivo: Superar a Esfinge Interior.


O desafio, portanto, não é apenas vencer um inimigo externo, mas enfrentar o próprio abismo interior. O vazio existencial é o eco da alma pedindo retorno ao seu centro.


A vitória de Édipo não é apenas mítica, é arquetípica: representa a possibilidade que cada ser tem de triunfar sobre os enigmas da vida através do autoconhecimento, da espiritualidade e da coragem moral.


Segundo a questão 625 de O Livro dos Espíritos, o maior modelo de conduta que temos é Jesus. Ele nos ensina, com palavras e exemplos, a encontrar sentido no amor, na renúncia, no serviço e na paz interior.


“Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados e eu vos aliviarei.”

(Mateus 11:28)


Conclusão:

Triunfar Sobre o Vazio é Escolher Viver com Sentido.


Cada dia que amanhece traz uma nova Esfinge à porta da alma. Os desafios cotidianos, os conflitos emocionais, os traumas do passado e os medos do futuro são formas que o enigma da existência assume.


Mas, como Édipo, podemos responder com lucidez e fé. A resposta não está fora: ela está no próprio ser. O Espiritismo não elimina a dor, mas a ilumina com propósito de encará-la vencendo-a paulatinamente pela compreensão e aceitação serena. Ele transforma o vazio em espaço de reconstrução interior, e nos convida a uma vida com sentido profundo, mesmo em meio às lágrimas.


“A verdadeira felicidade é a do Espírito puro, liberto, em harmonia com as leis divinas.”

(O Livro dos Espíritos, questão 920.)


Frase Final (psicológica e espiritual):


“Quando a Esfinge do vazio interroga, a alma responde com a luz que descobriu em si mesma.”


Fontes Fidedignas Consultadas:


KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. José Herculano Pires. Edicel.


KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. José Herculano Pires. Edicel.


DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB.


WEISS, Brian. Muitas Vidas, Muitos Mestres. Sextante.


FRANKL, Viktor. Em Busca de Sentido. Vozes.


GRIMAL, Pierre. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Bertrand Brasil.


SÓFOCLES. Édipo Rei. Traduções clássicas diversas.


BÍBLIA. Mateus 11:28.