Entre mil vozes sigo calado, um riso... Angelo Hope

Entre mil vozes sigo calado,
um riso perto me soa errado,
mas dentro da sombra guardo um clarão,
semente pequena, discreta paixão.


Olhares passam, não me percebem,
sou mar sem barcos que nele se atre­vem,
mas no fundo das águas, quieto, escondido,
há um peixe dourado que insiste em ter brilho.


Sou chama acesa perdida no frio,
vento me corta, me torna vazio,
mas toda brasa, ainda que fraca,
se agarra à madeira e a vida destaca.


Carrego no peito a multidão da solidão,
ruídos dançam, mas falta canção,
porém sei que a noite, tão longa e fechada,
um dia se abre em aurora dourada.


Eco sem porto, palavra sem mão,
me faço poema, me invento canção,
pois mesmo que o mundo não queira me ouvir,
meu próprio silêncio começa a sorrir.


E sigo entre vidas, ferido, mas são,
corpo presente, pulsando emoção,
a solidão pode ser dura prisão,
mas guarda a chave no próprio coração.