Você já se pegou sendo várias coisas... Karina Megiato
Você já se pegou sendo várias coisas ao mesmo tempo?
Astronauta, médica, psiquiatra, professora de educação física e piloto de avião...
Poxa, eu tenho que escrever esses pensamentos - ah, claro, porque também pensei em ser escritora!
Sabe aquelas menininhas que tinham um diário e escreviam tudo o que viviam quando eram crianças?
Pois é, eu era uma delas.
E lá estavam, nos meus dias, todas as coisas que tinham acontecido comigo, para eu ler depois, em paz.
Acho que já era o terceiro diário, e eu ainda não tinha conseguido ler nenhuma folha.
Quando lia, às vezes nem me recordava de muitas das coisas que tinha vivido.
Sempre achei que eu tinha memória ruim.
Quando casei, pensei:
“Nossa... o que fazer com meus diários da adolescência?”
Aí resolvi jogá-los fora.
Mas por quê?
Por que esconder todos os meus segredos?
Caraca, estou lembrando de coisas que há muito tempo não lembrava.
Porque agora, na minha cabeça, não é mais piloto de avião e sim escritora.
Eu já passei por médica, advogada... e com 30 anos, essa menina ainda não consegue saber o que quer da vida.
Também, ela teve 18 anos de influência do pai, e depois disso, de outros homens.
Ela nunca pôde ser ela por ela mesma.
E neste momento, ao se ver sozinha, perdida, sem ninguém para direcionar o caminho, percebe:
agora é hora de andar com as próprias pernas.
E isso assusta.
Dá medo.
Medo de fracassar, medo de não conseguir, medo de não ter ninguém pra apoiar.
Ela sempre sentiu e sentia demais.
Se importava demais.
Queria demais ajudar as pessoas.
E fazia isso com gosto, porque o coração também vinha junto.
E quando ela pensa em realizar um sonho, percebe que o que quer, de verdade, é fazer diferença na vida das pessoas.
Esse é o propósito dela.
Mas com qual profissão isso vai acontecer?
Qual delas vai fazê-la feliz e plena, com o coração doendo de tanta felicidade, por se importar de verdade, por querer fazer o bem?
Só que, pra conseguir tudo isso, ela sabe:
precisa se esforçar.
Ser a melhor versão de si mesma.
Tornar-se... um “f***-se”.
Sim, um “f***-se”.
Porque dessa maneira, com dinheiro, com conhecimento — seja lá como for, vai poder ajudar as pessoas.
“Deus, é medicina? Sim, eu estou com medo de ser medicina.
E de chegar lá e não gostar.
De fazer isso só por fazer.
Isso está me assustando, Deus.”
29/08/2018 — 00h47
Karina Megiato