Não se mede a dor de alguém.... Marcela Lobato
Não se mede a dor de alguém. Situações, às vezes, podem ser comparadas, mas não a dor sentida.
Muitas vezes o empurrão final para alguém desistir da vida, são justamente essas falas. "Quanto mi-mi-mi". "Você não tem motivos pra estar triste". "Você tem tudo, não tem do que reclamar". "Que frescura". "Isso é falta de Deus". "Olha tal pessoa, o problema dela é bem maior do que o seu".
O fato de alguém estar numa situação pior não diminui a dor de outra pessoa. Não alivia o sofrimento.
Ao mesmo tempo em que a nossa dor não é maior que a de ninguém, ela é a maior dor do mundo, porque nós a sentimos, e não temos como sentir pelo outro. Podemos ficar tristes, ser empáticos, mas não viveremos a exata mesma situação, tendo as exatas mesmas reações e histórico de vida, forma de sentir de outra pessoa.
Quer ajudar alguém? Comece não invalidando a dor que não sente. Comece entendendo que cada mente é um universo, com experiências, sensações, traumas, alegrias, motivações e intensidades únicas.
Se você sobreviveu ao "apocalipse" e a pessoa quer morrer por "uma unha quebrada", a dor dela não é menos válida que a sua, muito menos, menos real.
Falar pra alguém que a "unha quebrada" dela não é nada comparada ao seu "apocalipse" é só uma forma de jogar ela mais perto do precipício. Isso pode, inclusive, fazer ela sentir que não sabe lidar com as coisas, que não tem capacidade de viver, que o mínimo a destrói, portanto, deve se destruir antes que algo pior aconteça.
Dor é dor, como eu disse em uma de minhas músicas. Não há maior ou menor. Não há melhor ou pior.
