A Arvore Que Caiu na Rua de Olavo Bilac... Mr Curupira

A Arvore Que Caiu na Rua de Olavo Bilac

Na esquina da Rua Olavo Bilac

morava uma arvore sem pressa.

Tinha quase meio seculo de existencia,

galhos como bracos de mae,

sombra de abrigo,

e folhas que falavam com o vento

em lingua de antigamente.

Os meninos a escalavam

como quem sobe a infancia,

os velhos se encostavam nela

como quem repousa a memoria.

Pardais faziam festa entre seus ramos,

e um sabia cantava no fim da tarde,

pontualmente, como um sino natural.

Mas vieram os homens.

Sem nome, sem rosto.

Vieram a noite,

no dia 31 de dezembro de 2024,

quando a cidade brindava o novo ano

sem saber que perdia o que era eterno.

Vieram com motosserras

e um caminhao grande

para levar as galhadas

como quem apaga um traco da historia.

Destruiam um legado inteiro

ambiental, urbanistico, afetivo

quando a policia chegou.

Foi flagrante.

Foram presos.

Mas o crime ja estava consumado.

A arvore simbolo de resistencia,

de paz, de memoria

jazia no chao.

Na rua que leva o nome de Bilac,

poeta da patria e da civilidade,

a patria verde tombou

sem discurso,

sem flor,

sem justica.

As criancas acordaram sem sombra.

O sabia partiu em silencio.

E o novo ano nasceu mais seco,

mais quente, mais triste.

No lugar da arvore,

ficou o vazio

e uma placa:Estacionamento.