POBRES MONTANHAS DE FRIBURGO São 09:40... Sergio Junior

POBRES MONTANHAS DE FRIBURGO São 09:40 da manhã de uma sexta-feira de agosto, as enfermeiras vão fazer uma limpeza geral no corpo da minha mãe e pedem que eu me... Frase de Sergio Junior.

POBRES MONTANHAS DE FRIBURGO

São 09:40 da manhã de uma sexta-feira de agosto, as enfermeiras vão fazer uma limpeza geral no corpo da minha mãe e pedem que eu me retire. Havia apenas 5 minutos que eu havia chegado.
Aviso que estou do lado de fora e saio lentamente enquanto ela me olha desejando a minha permanência. É o quarto mais visitado do 6° andar do Hospital de Friburgo, na Suíça, onde o câncer de pulmão disputa força com as medicações e as orações.

Sigo no corredor até o elevador e o olhar de minha mãe penetra o meu íntimo. Vou respirar um pouco no 9° andar onde há uma grande cobertura de onde se pode ver boa parte da cidade. O sol da manhã está agradável e o verde da Suíça vence o belo desafio de engolir as insistentes nuvens de neblina que querem avisar que o inverno se aproxima.

E lá, numa daquelas mesas altas, cujas cadeiras só permitem que o seu pé toque o solo se você se inclinar um pouco para frente, estava a cena que me paralisou.
Com os dois pés apoiados nas barras laterais daquele banco alto, o braço esquerdo totalmente apoiado sobre a mesa, onde o óculos havia sido colocado com as lentes viradas para baixo; um homem está de olhos fechados, correndo o risco de perder o apoio do seu braço e bater a cabeça no chão.

Aquilo substituiu o olhar da minha mãe e a bela paisagem campestre das montanhas de Friburgo. Poucas pessoas sabem, mas eu sei imitar perfeitamente o latido do cachorro, os sons do galo, da galinha e de outros animais; pensei em usar uma dessas peripécias para assustá-lo, mas desisti quando vi mais profundamente a cena.

Era um sono solitário, era cansaço, dor e frustração que vinham à tona naquele rosto sofrido. Parei em uma posição que desse tempo para eu me lançar rapidamente e apoiá-lo, caso ele perdesse o equilíbrio. O sol ainda aqueceu a sua pele por alguns minutos e, num desses balanços que a cabeça faz quando se cochila, ele acordou.
E ao me ver em frente a ele, sorriu e perguntou-me: "rapaz, você está parado aí faz quanto tempo?"
Eu devolvi o riso, pedi a sua bênção e o convidei para tomar um café.

Sou o seu primeiro filho, e ali, de olhos fechados, provavelmente pensando na situação da minha mãe, ele me deu mais uma aula de resiliência: sem usar palavras.
Eu só sei que a foto que eu queria tirar das montanhas, foi totalmente esquecida e a rede social não terá o privilégio de vê-la, mas o que eu vi, meus amigos, eu não consegui fotografar ou filmar, por isso, vim aqui tentar descrever.

Um homem, passa por coisas que você jamais consegue imaginar, porque em vez de chorar e falar, ele ri e tenta fortalecer.