Fardo invisível A vida, lenta, vai... Roberval Pedro Culpi

Fardo invisível

A vida, lenta, vai despindo véus,
cada saber arranca uma cortina,
o riso simples se perde,
como a infância que nunca retorna.

Quem aprende a ver o fundo
já não se engana com as cores da superfície.
O ingênuo se alimenta de promessas,
mas o lúcido conhece o gosto amargo da verdade.

Não é que o mundo piore,
ele sempre foi o que é:
feito de enganos, de vaidades,
de silêncios disfarçados em canto.

É o olhar que se afia,
a alma que se abre,
e quanto mais se abre,
mais se fere no espinho da consciência.

Saber é carregar um fardo invisível:
multiplicar dores
na medida exata em que se desfazem
as frágeis ilusões do consolo.



Roberval Pedro Culpi

26/08/2025