Trono de areia Dizem que um homem ergueu... André Luiz Zanata
Trono de areia
Dizem que um homem ergueu torres de vento,
coroou-se com ouro que cega o próprio sol,
e acreditou que as marés lhe obedeciam
como cães adestrados na praia.
Ele marcha sobre desertos férteis,
semeando cinzas como se fossem trigo,
e chama isso de vitória.
Enquanto isso, os rios sussurram em segredo:
“a água não bebe mentira,
a justiça sempre chega até o mar.”
O céu, paciente, ri em trovões contidos,
porque sabe que nenhuma coroa de barro
sobrevive ao sopro que molda tempestades.
Ele, vaidoso, conversa com seu reflexo,
e o espelho, cansado, quebra-se em silêncio.
As estrelas, de tão antigas,
olham para sua altivez como se fosse brinquedo
de criança distraída.
Pois quem pensa mover o mundo
com os punhos fechados,
acaba esmagado pela própria sombra.
E no tribunal secreto das montanhas,
onde a neve é juíza e o tempo é escriba,
ficará registrado:
nenhum homem jamais dançou acima da Verdade,
pois a Criação não se curva
a quem acredita ser maior que o Criador.