Tia, tia, me ajuda. — O que você... Victor Gabriel

Tia, tia, me ajuda.
— O que você quer, moleque?
Ah, tia… deixa eu pensar.


O que eu quero é viver em um teto
que não tenha goteira quando chove.
Quero poder estudar,
viver como as crianças da minha idade.


Quero correr, brincar, gritar.
Quero gritar de alegria,
e não por causa da morte, tia.


Quero poder lanchar
e não ter que ficar sem almoçar.
Quero poder viajar,
curtir, festejar.


Eu não quero mais trabalhar,
não aguento mais lutar.
Vejo as letras, mas não entendo.
Quero ler e aprender,
crescer e vencer.


— Mas, menino, isso não é uma vida normal?
Eu não sei, tia.
Se for normal,
então eu quero ser normal.


Quero brincar em um quintal,
quero assistir a um jornal.
— Jornal?
É, tia, jornal.


Ver as notícias do mundo atual,
os descasos em um hospital,
a miséria mundial.


— Uau… não sei o que dizer.
Não precisa dizer nada, tia.


Só quero comer enquanto é dia,
pois a noite é dura,
e a maldade está nas ruas.


Gostei da sua palavra, tia.
Quero ser normal.