Entre Silêncios e Vestígios Há um... Jorgeane Borges
Entre Silêncios e Vestígios
Há um peso que carrego, invisível aos olhos alheios, mas constante em cada batida do meu peito. Vivo entre olhares que não compreendem, sorrisos que escondem cansaço e palavras que jamais alcançam a profundidade do que sinto. A cada dia, tento organizar a mente, colocar sentimentos em ordem, enquanto o mundo espera uma versão minha que já não existe.
Não busco atenção, nem aplausos. Apenas a compreensão de que existir, para mim, é um esforço silencioso e contínuo. Já gritei em silêncio, já falei com o olhar, já tentei expressar-me pelo gesto, pela imagem, pelo texto, e mesmo assim muitos passam sem perceber. Alguns dizem que não sabiam, outros desviam o olhar, e o que resta é o eco de uma presença que luta para ser sentida.
Às vezes, desejo apenas descansar, me desligar do peso que se acumula sem solução, anestesiar a dor sem deixar de existir. Não se trata de desistir da vida, mas de sobreviver à intensidade de sentir tudo em excesso. É um cansaço que ninguém vê, uma batalha invisível que consome e exige resistência.
Sei que posso tocar alguém, mesmo que seja só um coração. Um gesto silencioso, uma mão estendida, um olhar que acolhe sem julgar. Isso é o que salva, mais do que palavras tardias, mais do que multidões de reconhecimento depois da ausência.
Minha existência deixa rastros em palavras, em imagens, em pequenos pedaços de mim espalhados pelo mundo. Cada fragmento é um vestígio de luta, de presença, de tentativa de conexão. E mesmo que jamais eu veja o impacto total, acredito que há propósito nesse caminhar, na honestidade de sentir e de me expressar, na coragem de permanecer sendo humana, apesar de tudo.
Porque, no fim, o que realmente importa não é ser compreendida por todos, mas ser fiel a mim mesma, ao meu sentir, e deixar que quem estiver pronto para enxergar, veja.