Paradoxo da Vida Quando insisto em... Conceição Pearce

Paradoxo da Vida
Quando insisto em flutuar,
o corpo teima em afundar.
E quanto mais busco a razão,
mais me afoga a solidão.
Mas se entrego o meu pesar,
sem forçar, sem me agarrar,
o mar me toma com ternura,
e me devolve à superfície pura.
A calma vem quando me rendo,
sem controlar, apenas sendo.
O medo nasce ao tentar segurar
o que só vive se eu deixar soltar.
Segurança é ilusão bonita,
que nos engana, que nos limita.
É no soltar que a alma voa,
é no confiar que a dor escoa.
Afundar por querer flutuar,
flutuar por saber se soltar.
O paradoxo é sutil, profundo:
é se perder pra caber no mundo.
CONCEIÇÃO PEARCE