⁠Lançar a semente em terreno fértil,... Míriam Morata

⁠Lançar a semente em terreno fértil, não basta; é preciso regar, tirar as pragas, proteger do vento e do granizo; podar e adubar; conversar e agradecer o privil... Frase de Míriam Morata.

⁠Lançar a semente em terreno fértil, não basta; é preciso regar, tirar as pragas, proteger do vento e do granizo; podar e adubar; conversar e agradecer o privilégio de participar desse milagre... esse é o alimento da Alma; então essa semente nos presenteia com o fruto que alimenta o corpo e fecha o círculo do ofício CUIDAR para existir.
Quando a fêmea leva comida ao bico do filhote, ou quando o macho protege a cria dos predadores; ou quando a mãe aconchega o filhote entre as patas, para que ele conheça o poder do Amor e não tema o chamado da Vida... eles estão cuidando, para que a Vida continue seu ciclo sagrado e vença a Morte e o Abandono.
Cuidar é um ato de Amor, não aquele amor romântico de Neruda; mas o Amor que é potência transformadora, aquele amor que nasce da Compaixão e da Responsabilidade. O Amor que sustenta e possibilita o ofício de existir, com toda sua magia e dor. O Amor compromisso com nós mesmos e com o outro, com a dignidade, a memória, o respeito às limitações, esperança, sonhos, ilusões, crenças... e feridas abertas daqueles que compartilham conosco este tempo e espaço.
Nada no Universo sobrevive sem o ato de Cuidar, tudo que vive precisa de cuidados, tudo que vive precisa de alguém que cuide.
O bebê precisa da mão que leva papinha à boca; a criança de alguém que segure sua mão, para desenhar as primeiras letras e os primeiros sonhos; o jovem precisa do olhar atento que transforme seu medo em desafios e força; o idoso precisa do braço que ampare seus passos, do ouvido atento que ouça suas histórias, ainda que contadas milhares de vezes, de alguém que o convide para as festas e para continuar produzindo...
O Cuidador é o pilar que sustenta a Vida.
Vivemos um tempo em que a hipervalorização das individualidades – “sou dono de mim”; “eu não preciso de ninguém”; “empreendedor de si mesmo”... – e tudo isso pode nos levar ao pedregoso terreno da auto suficiência e solidão.
Como construir a Cultura do Cuidado, se o cuidador é invisível e nunca é convidado para a Festa da Vida?
Precisamos do outro para mantermos a sanidade, para produzirmos beleza, para experimentarmos o milagre do encontro e permitirmos que o olhar do outro melhore e amplie o nosso; para ressignificarmos a Vida e checarmos nossas certezas voláteis.
Estamos todos conectados com tudo que pulsa, e esse é nosso maior tesouro e desafio... Mas a tarefa de cuidar para que esse tesouro não se transforme em pesadelo, esse desafio não se torne obstáculo intransponível está nas mãos de poucos.