⁠Você me pergunta se eu te amo. Digo... Maya Rios (heterônimo de...

⁠Você me pergunta se eu te amo. Digo que sim. Você me pergunta o porquê. Mas a resposta não cabe nas palavras. Ela mora nos gestos que escapam da boca: nas panq... Frase de Maya Rios (heterônimo de Gabriel Hayashida de Arruda).

⁠Você me pergunta se eu te amo.
Digo que sim.
Você me pergunta o porquê.

Mas a resposta não cabe nas palavras.
Ela mora nos gestos que escapam da boca:
nas panquecas com mel feitas de surpresa,
no silêncio que não coça a garganta,
no erro que você comete
e eu deixo passar como nuvem.
Não por dó —
mas porque o amor é míope (como eu sou)
e prefere enxergar embaçado.

O amor é transcendental.
Ou seja: escapa.
Foge das definições como um gato —
no peitoril da janela,
olha para você, mas não obedece:
é a imprevisibilidade que se deixa ficar.
É um peixe vivo na banheira da alma —
algo inadequado, mas presente.
Ou a sombra de um pássaro:
risca o chão e some antes de você apontar —
pura efemeridade.

É sagrado,
porque é inútil (não serve para nada).
Como um copo d’água na madrugada —
não sacia, só umedece os lábios.
É real,
porque não precisa ser provado.

E é impossível.
Como traduzir o cheiro da chuva
sem nomear a saudade?