Aos descartáveis Fiz morada em... Igor D Sotolani

Aos descartáveis
Fiz morada em olhares que só alugavam
companhia por temporada.
Eu já ouvi que era diferente
Sempre pronto pra acreditar no que queria ouvir,
pendurar quadros no afeto provisório.
Vi promessa em cada silêncio,
confiança onde só havia distração.
Ofereci poesia e colo,
Recebi ausência embalada em desculpas de timing.
E então tudo foi ruindo.
Sem drama, sem despedida,
sem nem ao menos o respeito da dúvida.
Aparecia quando a saudade apertava o conforto,
sumia quando minha presença exigia profundidade.
Sequer quebrou o que eu sentia,
só deixou cair.
Como quem troca de roupa.
Como quem esquece um nome no meio da frase.
Como quem nunca quis mesmo lembrar.
Assinei contrato vitalício num papel de guardanapo.
Enxugou os lábios. E foi.
Fui o plano B preferido,
o ombro de emergência,
a plateia sempre disponível para seus retornos performáticos.
O substituto ideal: presente, inteiro, sincero
e portanto, invisível.
Ser demais sempre me fez sobrar.
E eu, idiota lírico,
achando que intensidade era moeda e não desvio.
Mas há honra em ser inteiro
num mundo que só toca pela metade.
Há dignidade em não aprender a amar menos.
Se ser descartável é amar sem reserva,
então sou arte na lata dos que não sabem olhar.
Fui frágil, fui bobo, fui chama em nevasca,
mas fui real.
E isso, por si só,
já me coloca acima dos que só sabem fingir.
meu silêncio não tem devolução,
e o amor agora tem lacre