Tentaram me machucar. Tentaram me... Aline Caira

Tentaram me machucar.
Tentaram me enlouquecer, me ferir, me destruir.
Mas esqueceram… que eu já havia morrido por dentro
no dia 11 de setembro de 2001.
Enquanto o mundo assistia em choque às Torres Gêmeas desabando,
eu desabava por dentro.
Fui deixada sozinha, sangrando num hospital, entre a vida e a morte.
E naquele lugar frio e indiferente, meu filho partiu.
Esqueceram que o que manteve meu corpo em pé
foi a alma despedaçada… sustentada pelo amor.
Mesmo fraca, quase sem vida, eu fui.
Fui registrar o nome do meu filho —
um nascimento que durou um sopro,
seguido, no mesmo instante, por uma certidão de óbito.
No velório, enquanto o mundo seguia alheio à minha dor,
eu cheguei até ele.
Arranquei uma a uma as flores que cobriam seu corpinho.
Tirei com minhas mãos a roupinha que eu havia comprado com tanto carinho
para levá-lo para casa nos braços —
e, em vez disso, o acolhi em meus braços no silêncio do luto.
Aproximei-o do meu colo, encostei-o aos meus seios,
que ainda carregavam o leite da vida.
O calor do meu corpo encontrou o frio da morte.
E naquele instante… todo o amor do mundo gritou em silêncio dentro de mim.
Beijei sua testa gelada com a ternura de quem ama além da vida,
além da carne, além do tempo.
E o devolvi ao seu pequeno caixão, com as mãos trêmulas
e a alma em pedaços.
Essa foi — e sempre será — a dor mais cruel que um ser humano pode suportar:
amar profundamente… e ser forçado a sepultar.
--
Essa é a minha história.
Eu sou Aline Caira.
E o nome do meu filho que partiu era Hanthony Savilly.
Enquanto o mundo chorava pelas Torres Gêmeas,
eu chorava pelo meu mundo que havia desabado dentro de mim.