há uma delicadeza na forma como... Liliane Britto

há uma delicadeza na forma como flores dizem o que palavras não alcançam. peônias, por exemplo, não gritam beleza, elas sussurram. abrem devagar, como confidências, escondidas em dobras suaves que parecem guardar um segredo antigo. são como tempo transformado em pétalas: não se revelam com pressa, só com intimidade.
já as primaveras... parecem não saber que são árvores. exageram no florescer, espalham cor como quem deixa alegria cair dos galhos. pintam o mundo sem pedir licença. e mesmo quando suas flores se vão, deixam a lembrança do que foi bonito, como quem marca presença sem fazer barulho.
observar quem gosta de flores é aprender a linguagem do gesto. é notar a forma como os olhos sorriem diante de uma cor, como o silêncio muda quando vem o perfume. transformar esse olhar em cuidado é quase ritual, criar momentos que não dependem de grandes promessas, só de atenção.
e quando vem o vento? a brisa que caminha entre as folhas ensina sobre leveza. a chuva que toca o chão sem pressa fala sobre retorno. é nesse ritmo calmo que tudo se revela, o que floresce fora, e o que floresce dentro.
gostar de flores é mais que preferência: é jeito de existir. é encontrar beleza na espera, no detalhe, no que ninguém vê. é saber que o mundo não precisa ser corrido para ser sentido.