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Propósito

 Eu vou usar tudo que tenho em mim,
 todas as minhas ferramentas de comunicação,
 toda minha arte,
 só pra você me ouvir.
 
 O meu propósito não é falar.
 O meu propósito é você me ouvir:
 Existe, para além dessa sua existência tacanha,
 uma perfeita Poesia invisível,
 orquestrando essa melodia chamada Vida
 e convidando, insistentemente, sua Alma para dançar.
 
 Há neste meu propósito uma certeza ardente
 de que a vida merece ser experienciada por completo,
 afinal, viver é a nossa maior dádiva.
 E nessa certeza mora uma esperança viva
 de que, enquanto tivermos uma alma
 Deus poderá ser Sentido.

 Esse é justamente o ‘Sentido’ da vida,
 não esse monte de compromissos que você marca
 só para fugir de ir pra casa se encarar.
 E nem esses textos bíblicos que você posta
 mas não entendeu que fé é sobre descansar.
 Tampouco essa culpa que você insiste em se punir
 por não ser perfeito ou apenas por errar.
 Isso não é vida.
 Vida é esse instante sagrado
 onde sua alma encontra o Eterno.
 
 E o meu propósito é te fazer lembrar disso.
 Volta pra casa.
 
 Com a palavra,
 Alice Coragem.

Inserida por alicecoragem

⁠Não Seja Um Artista

Ei, me escute: não seja um artista.
Ser artista é como ser alma num mundo de pedras quadradas.
Como ser cor num mundo que se tinge
com uma pálida gradação de cinza.
É como ser uma pintura infinita para molduras pré-fabricadas, 
padronizadas, quadradas e duras.
 
Ser artista é cantar para surdos, pintar para cegos
e escrever poesias num idioma já extinto.
É como se manter dançando de olhos fechados
em meio a um desfile militar organizado em filas perfeitas
ao compasso frio e forte das botas que marcham.
 
Ser artista é se negar a seguir a receita para ser aceito,
não pela aceitação em si,
mas por ver o Sagrado através das suas próprias medidas.
 
Ser artista é resistir à tentação de ser medíocre.
É ter a Coragem de viver sem nenhum tipo de anestésico.
É suportar a dor para saber onde dói.
Suportar até transformá-la em Arte.
É escolher sentir o que se tem
na tentativa de um dia se ter flores.
 
Ser artista é ter esperança
num mundo que só tem certezas.
Então não seja um artista.
 
A não ser que sua alma não aceite outra coisa
que não a Arte.
Não seja um artista,
a não ser que seu coração bata acreditando que
um dia o surdo vai conseguir ouvir o seu canto,
que o cego poderá perceber as nuances das suas pinceladas
e que o idioma das poesias será novamente celebrado.
 
Não seja um artista,
a não ser que sua música soe mais alto
que o barulho de mil botas batendo
e que em suas formas tão singulares
o Sagrado se manifeste.
 
Definitivamente não seja um artista,
a não ser que as únicas flores que você espera na vida
sejam suas próprias dores transformadas.
 
Com a palavra,
Alice Coragem.

Inserida por alicecoragem

⁠Saindo da Coxia

Estrear em algo é como nascer de novo
mas num lugar já conhecido.
É que a novidade não está no mundo.
Este segue sendo o mesmo
perpetuando o Medo de mudança.
O que estreia hoje é a artista
gerada no silêncio e na solidão do Ser.
 
A poesia é da Alice,
    mas a alma 
         virou Coragem.
 
Com a palavra,
Alice Coragem.

Inserida por alicecoragem

⁠Compromisso

Era um dia comum, eu estava em casa sentada na mesa da sala, escrevendo.
Igual hoje.
Igual todo dia.
E aí aconteceu.
Algo entrou aqui.
Senti um vento... vento não, sopro.
Senti um sopro, como quem respira por perto.
Não era medo o que eu senti, mas sabe-se lá o que era.
Passou um vulto do meu lado.
Pisquei e sentou à minha frente.
Muito parecida comigo, mas completamente diferente.
Me olhou por inteira, por de dentro da minha alma, como se me rasgasse.
 
Eu? 
Eu nem reagi.
Estava hip-no-ti-za-da.
Por fora, imóvel.
Por dentro, uma bateria de escola de samba saindo do recuo.
Ficamos nos ouvindo em silêncio como quem pinta uma cena na cabeça.
Para não esquecer, sabe?
E eu não esqueci: os olhos brilhantes, o cheiro de horizonte e a voz de silêncio, de quem se cala porque sabe de algo.
 
Toda minha atenção estava naquela figura.
Tentando eternizar na memória a sensação daquela presença.
Ela, muito decidida, estendeu a mão pra mim.
Eu aceitei, claro.
Quando minha mão encostou na dela senti um frio.
Não dela, de mim!
Minha espinha veio congelando lá de baixo até chegar na cabeça.
Como se eu tivesse bebido um milk-shake muito rápido, sabe?
Parecia que tudo na minha vida tinha me preparado para aquele exato momento.
Eu, de mãos (geladas) dadas com uma estranha (conhecida), 
sentada na mesa da sala da minha própria casa, 
sentindo o coração derreter feito vitamina C na água.
 
Ela, segurando a minha mão que segurava a mão dela, me puxou pra dançar. 
Ali mesmo na sala, em frente ao sofá, em plena tarde de quarta-feira.
E como duas pessoas que não têm mais nada de importante pra fazer,
mas não podem perder nenhum minuto sequer, 
dançamos na sala ao som de uma música própria.
(Como se tivéssemos uma).
Eu gosto de imaginar que era algo como 'Travessia' do Milton com 'Beija eu' da Marisa.
 
Tão linda ela.
Os cabelos como fogo, olhos de enverdecer sertões e um sorriso,
que só quem já chorou suas águas consegue sustentar.
E giramos.
Giramos como quem já se entendeu livre para poder girar. 
E no meio do giro que ela girava, me abraçou. 
Assim, de surpresa.
Ainda girando.
Eu chorei.
Eu não queria, mas as lágrimas simplesmente escorriam.
Até o mundo parou seu giro para nos olhar. 
Como quem torceu a vida toda por este abraço:
eu e ela.
Um abraço apertado, mas só o suficiente.
Abraçou não como quem se despedia, 
mas como quem ama recebe o ser amado depois de longa ausência.
 
Foi aí que ela sussurrou no meu ouvido:
— Vai!
Desnorteada, respondi:
— Pra onde?
Ela sorriu com olhos gentis e disse com voz firme: 
— Não importa pra onde. Vai sem saber. Vai com medo. Eu vou contigo!
Então, fizemos um compromisso.
Ela iria pra onde eu fosse, bastava eu ir.
Eu só não poderia parar outra vez.
— Vai, volta, vai de novo. Se não souber o caminho, dança, gira, passeia, só não fica parada.
 
Ali eu entendi.
Ela só existe no verbo.
Aparece no passo iniciado mas some antes que ele finalize.
É preciso iniciar outro para ela voltar.
Mas é na caminhada que ela se muda e mora de vez. 
 
Jurei de pé junto (mas ainda em movimento) que seguiria em frente porque ela estaria comigo.
E como garantia desse acordo entre nós, agora assinamos um só nome.
Eu e ela.
Alice e Coragem. 
Juntas. 
Numa só alma. 
Alma presente chamada poesia. 
 
Com a palavra,
Alice Coragem.

Inserida por alicecoragem

⁠ Resistência

 Como vai você? 
 Eu?
 Eu estou.
 Me perdendo e me achando.
 Mas estou.
 Sobrevivendo e resistindo.
 ...
 Talvez este seja o problema:
 Resistir.
 Melhor seria eu me render.
 ...
 Hein?
 Quando foi que nos ensinaram a resistir?
 Você lembra?
 Quando que entendemos isso como uma qualidade?
 ...
 "Seja resistente na vida" diz o mundo.
 Mas, por definição, resistência
 'refere-se à capacidade de oposição à algo, de ser firme, de suportar as dificuldades e,’
 Atenção:
 'refere-se à recusa em ceder'.
 ...
 Que lição estranha recebemos.
 Pois ter a 'qualidade' de ser resistente na vida
 Significa ter a capacidade de ser oposição à ela,
 De não deixar que ela nos atinja.
 De não deixar que ela nos toque.
 ...
 Eu não quero ser firme.
 Eu quero ser fluida.
 Quero que, ao ser tocada pela vida,
 Eu me molde.
 Quero ser senhor das formas,
 Não escravo delas.
 ...
 Já as dificuldades não servem para serem suportadas.
 Servem para serem superadas.
 Suportar é passar por elas e sair ilesa.
 Superar é passar por elas até sair mais forte.
 Suportar é aguentar.
 Superar é vencer.
 ...
 E a recusa em ceder, da última parte?
 Deus me livre não ceder.
 Deus me livre ficar lutando com o coração endurecido,
 E não me render ao aprendizado,
 Ao crescimento.
 ...
 A vida não foi feita para ser resistida.
 Ela foi feita para ser experimentada, experienciada.
 Não gaste vida sendo resistência ao que te toca.
 Quem resiste, sobrevive.
 Quem se rende, flui no voo da vida.
 E se resistência é ser oposição à vida,
 Resistência, na verdade, é morte. 
 
Com a palavra,
Alice Coragem.

Inserida por alicecoragem