Todos nós já sonhamos alguma vez na... anima_silens

Todos nós já sonhamos alguma vez na vida, né? Agora vou contar a história de uma espécie diferente de seres que habitam nas mais sóbrias vielas da cidade, onde a luz do sol penetra de uma forma diferente. Sonhadores — eles se intitulam sonhadores.
Esse nosso herói vive muito no mundo dos sonhos, sabe? Como se a realidade fosse cruel demais com tudo que ele já foi ou tentou ser. Não direi que esse nosso herói viveu muito, pois não há nada em sua vivência que nos prenda. Ele é comum: bate seu cartão às 08:00, sai para o almoço e volta pra casa às 18:00. Nada além disso. Mas ele tem uma imaginação fértil, que trabalha incansavelmente criando fantasias para não se chocar com a realidade cruel e solitária.
Em seus devaneios mais duros, passando por ruas ou até mesmo no ônibus, há sempre aquela mulher — a mulher de sua vida — com quem ele nunca trocou uma só palavra, nem ao menos um “bom dia”. Mas em sua mente, eles vivem um conto lindo e fantasioso, onde tudo é perfeito e nada pode tirar essa perfeição. Ele criou isso da forma mais literal possível: com um castelo todo iluminado e um jardim florido, onde ele a segura nos braços e os dois sorriem um para o outro como se tudo fosse perfeito. Sem problemas, sem separações.
Mas, por ventura, esses devaneios de alegria sempre acabam. E a solidão volta.
Pense: estar sozinho não é estar só. Mas não conseguir estar junto — a realidade não se encontrar diante da vida — isso é estar sozinho.
Nosso herói é dessa forma: frio, solitário, pálido e apagado.
Mas quando sonha… ah, sim, aí há vida. Mesmo que seja irreal, ainda é vida.
Aos olhos dele, isso parece ser mágico.
Imagine Platão e seu mundo das sombras, onde sempre tentamos sair em direção à luz e descobrir o que é real.
Com o nosso herói é o contrário: ele prefere o mundo ideal que criou em sua mente — mesmo que tudo acabe com uma voz mais alta o chamando, ou um neném chorando.
Camus já diria que essa forma de viver é um absurdo. E nada é mais contemplador do que entender que a vida é somente a vida — e nada mais. Nada especial. Nada de nada. Só a vida mesmo.
E isso é duro de aceitar.
Mas, para o nosso herói, ele sonha — e deseja continuar sonhando.
Pois ali é onde tudo faz sentido. Onde tudo é calor. Onde há felicidade, mesmo que por algumas horas, até voltar à realidade.