⁠III. Quando o grito se disfarça de... Leonardo Azevedo.

⁠III. Quando o grito se disfarça de silêncio Há gritos que ninguém ouve porque se disfarçam de silêncio. E há silêncios tão densos que carregam em si o estrondo... Frase de Leonardo Azevedo..

⁠III. Quando o grito se disfarça de silêncio
Há gritos que ninguém ouve porque se disfarçam de silêncio. E há silêncios tão densos que carregam em si o estrondo de mil tempestades internas. A mente, quando já não suporta traduzir a dor em linguagem, recua. Fecha as janelas. Apaga as luzes. Cria mundos paralelos onde, mesmo distorcida, a realidade se torna suportável.
Nem sempre a loucura é ruído. Muitas vezes, é ausência. Ausência de conexão, de resposta, de chão. É o exílio interior de quem ainda está presente no corpo, mas já não habita a lógica comum. E nesse exílio, o tempo não segue sua ordem. As palavras não obedecem significados. O real se dissolve em fragmentos que só fazem sentido para quem ali está.
A sanidade, do lado de fora, observa, mede, intervém. Mas nem sempre compreende. Porque compreender exige mais do que escuta técnica, exige atravessamento. E poucos suportam atravessar a dor do outro sem se perder de si mesmos.
Talvez a maior ponte entre a lucidez e a ruptura esteja na empatia profunda, que não tenta apagar o delírio, mas se ajoelha diante dele como quem respeita um altar de sobrevivência. Porque ali, naquilo que chamamos loucura, ainda pulsa a centelha de quem resiste, não por desordem, mas por excesso de verdade que o mundo não conseguiu conter.