Se você soubesse… Eu costumava ser... Bruno Sayoto

Se você soubesse…
Eu costumava ser sozinho.
Foi quando, sem querer, eu esbarrei nos teus olhos profundos, lindos,
e cheios de coisas que eu nunca consegui decifrar.
E mal sabia eu tudo o que eles já tinham visto…
e tudo o que ainda fariam ver.
Pode parecer clichê, talvez seja mesmo.
Mas foi ali, naquele primeiro olhar, que eu me apaixonei.
Foi ali que conheci uma parte doce do mundo.
Uma parte que tinha teu nome.
E os nossos caminhos se cruzaram como se fosse por acaso.
Mas a verdade é que, desde então,
nada mais foi por acaso.
Eu me vi em você.
Você sempre acreditando no melhor, cheio de fé, cheio de luz.
E eu tentando não me apagar por completo.
Você sonhava e corria atrás.
E eu sonhava e me perdia.
Porque passava tempo demais cuidando dos outros,
tentando agradar e se esquecendo de mim.
A maior prova de amor que eu te dei
foi estar ao seu lado em tudo.
Nos dias bons, nos dias ruins,
nos dias em que nem eu sabia onde tava a minha força.
O amor é isso, né?
A gente sacrifica uma parte da gente
pra ver o outro bem.
E foi isso que eu fiz.
Eu me sacrifiquei. Por você.
Mas você tinha vergonha de mim.
Talvez por sermos tão diferentes.
Ou talvez porque você ainda não tava pronto pra me amar do lado de fora.
Você não era assumido.
Eu só podia ir pra sua casa depois da meia-noite
e tinha que ir embora antes do sol nascer.
Quantas vezes eu caminhei de volta pra casa no frio, na chuva,
com o coração molhado
e os pés cansados de esperar por um espaço na tua vida.
E foi aí que eu percebi.
Por mais que eu te amasse,
eu não estava confortável nessa relação.
Porque eu te amava
mas me sentia escondido.
Foi então que eu errei.
E não vou me justificar.
Só digo que talvez tenha sido uma tentativa de entender se o problema era eu.
Se alguém mais também teria vergonha de mim.
E eu conheci alguém.
Alguém que me quis perto.
Me mostrou sem medo.
Me levou pra viajar,
me apresentou pra família.
E mesmo assim,
tudo o que eu queria era viver aquilo com você.
Mas você tinha vergonha de mim.
Sabe de uma coisa?
Se eu soubesse que as nossas vidas nunca mais seriam as mesmas,
do quanto tudo isso iria doer,
eu preferia nem ter saído de casa naquele dia.
Preferia nunca ter te conhecido.
Porque hoje
a gente não estaria aqui, assim.
Um longe do outro.
Um vazio que não se preenche.
Uma saudade que não tem pra onde voltar.
E a única coisa que restou
foi o silêncio do que a gente quase foi.