A Área Cinzenta Nunca fui daqueles que... Tamara Guglielmi

A Área Cinzenta Nunca fui daqueles que se apaixonam pelo brilho imaculado das virtudes. Tampouco daqueles que abandonam ao primeiro sinal de falha. O que me mov... Frase de Tamara Guglielmi.

A Área Cinzenta

Nunca fui daqueles que se apaixonam pelo brilho imaculado das virtudes. Tampouco daqueles que abandonam ao primeiro sinal de falha. O que me move, o que verdadeiramente me atrai, é outra coisa — algo menos visível, mais sutil, quase indizível.

Aprendi — talvez a duras penas — que ninguém ama só o que é belo. Que ninguém desiste só do que é torto. O amor real, aquele que sobrevive às estações, não floresce apenas no jardim das qualidades, nem morre no pântano dos defeitos. Ele nasce ali, entre um e outro, em um terreno silencioso e inquieto: a área cinzenta.

Essa terra estranha, onde não há garantias nem perfeições, onde convivem a luz que aquece e a sombra que assusta. Um lugar onde o olhar não se detém apenas no encantamento — mas ousa seguir adiante, até encontrar aquilo que dói, que desafia, que expõe.
Ali, os olhos não brilham apenas pelo que fascina, mas pela coragem de ver o que é humano demais.

É nessa zona imprecisa que o amor se revela como ele realmente é: imperfeito, sim, mas imensamente verdadeiro. Porque ali o outro não precisa performar, não precisa provar, nem esconder. Ele apenas é. E isso basta.
Não me interessam os amores de vitrine — polidos, artificiais, à prova de mágoas. Nem os romances descartáveis, que se desfazem diante do primeiro tropeço. O que eu procuro — mesmo sem saber exatamente como chamar — é esse tipo de vínculo que se assenta entre a admiração e o desconforto, entre o que me eleva e o que me testa.

Na área cinzenta, o amor é trabalho e escolha. É entrega que não exige perfeição, mas inteireza. É quando olho o outro, cheio de falhas, e ainda assim digo: "sim, eu fico." Não por cegueira, mas por compreensão. Não por carência, mas por coragem.E ali, nesse ponto onde o ideal cede lugar ao real, que mora o amor que me interessa: aquele que vê tudo — e ainda assim, permanece.