"QUERER II (EM DEZ ATOS)" I... Risomar Sírley da Silva

"QUERER II (EM DEZ ATOS)"
I
Queremos o sol, mas reclamamos do calor.
Queremos a lua, mas tememos a escuridão.
O desejo é um animal de patas inquietas
que nunca se deita no mesmo lugar...
II
Perguntam-me o que busco, e eu sorrio.
Se eu soubesse, já teria parado de correr.
Mas há um fogo entre meus ossos
que não me deixa em paz...
III
Os loucos são meus professores.
Eles não leem manuais, não seguem mapas.
Quando a tempestade vem, abrem a boca
e bebem a chuva como se fosse vinho...
IV
Eu também queria ser assim:
livre de tanto pensar, de tanto pesar.
Mas minhas mãos estão cheias
de coisas que não sei nomear...
V
Às vezes, de madrugada,
sinto que estou perto da resposta.
Ela vem como um cheiro distante,
mas desaparece quando acendo a luz...
VI
Já joguei muitas coisas fora,
mas o essencial ficou preso em mim.
São pedras que carrego no peito:
algumas doem, outras me mantém em pé...
VII
O mundo é um lugar barulhento
cheio de pessoas mudas.
Todos falam, ninguém escuta.
Todos correm, ninguém sabe por quê...
VIII
Dizem que a vida é simples.
Então por que a gente a complica tanto?
Inventamos problemas, criamos labirintos
e depois choramos por não saber sair...
IX
Talvez o segredo seja parar.
Não pensar. Não querer.
Só respirar e deixar que o vento
nos leve para onde quisermos ir...
X
Mas eu ainda não aprendi essa lição.
Então sigo querendo, queimando, tropeçando.
Porque no fim, é isso que me faz sentir vivo:
o fogo, a queda, e o levantar...