⁠ A Mulher Estranha Que Habita em Mim... Cyntia Karla De Liz


A Mulher Estranha Que Habita em Mim

Há uma mulher estranha que habita em mim.
Ela gosta de segredos e peculiaridades. Gosta de ouvir músicas clássicas antes de dormir, com uma taça de vinho na mão e pensamentos soltos no ar.
Ela escreve poemas que nunca foram publicados — e talvez nunca sejam. São apenas dela, como cartas jamais enviadas.

Gosta de ouvir histórias de vida. Histórias reais, marcantes, que carregam dor, superação e alma.
Absorve cada palavra como se fossem ensinamentos deixados em forma de cicatriz.

Ama flores. A rosa vermelha a encanta, mas sua favorita é a preta — rara, enigmática, quase mágica.
Gosta de passar o dia de pijama. Já saiu assim, de pantufa, como quem se recusa a se moldar.
Gosta de imaginar lugares incríveis e frios, sonha com a neve tocando o rosto.

Cozinhar é sua terapia. Cada mistura de temperos é alquimia.
Prefere o minimalismo, o místico, o histórico, o silêncio.
Suas roupas, quase todas pretas, são armaduras e expressão.

Gosta do vento no rosto, do som das trovoadas, de deitar na areia e ouvir o mar conversar com o vazio.
Ama a arte. Vibra diante de "O Grito", de Munch, e sente paz em "Noite Estrelada", de Van Gogh.
Lê os sentimentos que os pintores esconderam nas pinceladas.

Prefere vozes baixas, olhares profundos, mas a sua voz, às vezes, transborda.
Ama café, chá, vinho. Mas nunca gostou de refrigerante — o paladar exige experiências intensas.
Receber visitas é um prazer. Visitar, não. Detesta despedidas.

Sua casa é seu universo, sua bolha, seu abrigo.
Mergulha nas músicas mais estranhas, sente cada verso como se o tivesse escrito.
Ama os idosos. Desde pequena, vê neles o reflexo do futuro e o eco do passado.

Acredita na inteligência dos animais. Sente a energia das pedras da cachoeira e o cheiro da terra molhada.
Viajar sem rumo é uma necessidade. Acordar e apenas ir, sem destino, é como respirar liberdade.

Observa as pessoas. Ouve com os olhos.
Mergulha em histórias, mesmo que sejam tristes, porque entende que tudo tem razão de ser.
Respeita todas as crenças. Já leu sobre quase todas as religiões e entende:
cada um carrega sua verdade, seu Deus, sua fé — e isso basta.

Ama as palavras. Já leu o dicionário por prazer.
Acredita que cada frase pode ser aperfeiçoada com a palavra certa, como uma peça encaixada no coração.
Detesta mentiras. Ama a verdade crua, nua, reta. Sim ou não, sem meio-termo.

Valoriza a autenticidade. Não se encaixa em mentes vazias.
Tem sede de sabedoria. Vive em constante aprendizado.
Não acredita em padrões. Beleza, para ela, nasce de dentro.

Não é materialista, mas ama conquistas.
Não se apega a objetos.
Dinheiro não compra sua essência.
Mas sim, acredita em estabilidade — sobretudo emocional.

Tem dias sérios. Em outros, é comediante de si mesma.
À noite, senta e contempla a lua, as estrelas, o silêncio.
Ama o frio, casas de madeira, chalés perdidos no meio do nada.

Ajudar é seu ato de fé.
Trocaria o dia pela noite sem pensar.
Diz que em outra vida foi bruxa... ou talvez vampira.
A escuridão lhe dá paz.
Seu pensamento voa melhor sob o céu da meia-noite.

Acredita em alma gêmea.
Não crê que os opostos se atraem, mas que conexões verdadeiras fazem sentido.
Por isso nunca se casou. Nunca encontrou alguém que habitasse o mesmo universo que ela.

Sonha com gestos simples: flores, bilhetes, jantares à luz de velas.
Um amor que se mostra nos detalhes, no silêncio cheio de significado.
Imagina cozinhar com alguém, dividir o vinho, o afeto, o instante.

Essa é a mulher que habita em mim.
Complexa, contraditória, intensa.
Às vezes sombria, às vezes luz.
Mas sempre inteira —
mesmo quando partida.