⁠As portas que a dor me deu Trago no... Carolina Marinho

⁠As portas que a dor me deu Trago no peito um chaveiro antigo, onde penduro as dores que ousei sentir. Não as neguei, nem as adormeci — dei-lhes nome, corpo e t... Frase de Carolina Marinho.

⁠As portas que a dor me deu

Trago no peito um chaveiro antigo,
onde penduro as dores que ousei sentir.
Não as neguei, nem as adormeci —
dei-lhes nome, corpo e tempo.
E por cada uma, uma porta se abriu.

Oh, quantas vezes desejei não saber de mim!
Mas bastava que uma lágrima caísse inteira,
sem vergonha, sem pressa,
e o som de uma fechadura cedia —
como quem rende o coração a um amor impossível.

Há portas que me levaram a desertos,
onde o vento me arrancou as certezas;
outras, me devolveram o riso antigo
que eu pensava morto.

Nenhuma delas seria minha
se eu tivesse virado o rosto à dor.
Porque é no instante em que ela me atravessa,
que eu a torno caminho,
e o sangue, mapa.

Sim... cada dor que me rasgou,
destrancou um tempo, uma face, um lugar.
E hoje sou feita disso:
de cem portas escancaradas
por onde caminham os dias melhores
que antes,
eu apenas ousei sonhar.