A busca espiritual e o... Maurício Junior

A busca espiritual e o materialismo…
Mergulhar no insondável mistério da existência é adentrar uma tapeçaria viva, onde cada fio revela a complexidade da Criação e a profundidade do Criador. Nesse cenário, uma pergunta se ergue como baluarte da reflexão: buscamos o Criador em sua essência inefável, enquanto origem e fim de tudo que existe, ou limitamos nosso anseio à obtenção de dádivas, restringindo o Infinito às molduras de nossas necessidades e prazeres efêmeros? Tal questionamento não é meramente teórico, mas ecoa na prática de uma sociedade que, demasiadas vezes, parece instrumentalizar a transcendência, transformando-a em serva de suas ambições mais materiais.
Vivemos em um tempo em que o sagrado é frequentemente diluído pela lógica do utilitarismo. O Criador, na percepção de muitos, é reduzido à condição de fornecedor celestial, cuja função primordial seria atender aos caprichos humanos. É como se a eternidade fosse invocada para resolver as questões do instante, e a infinitude divina fosse comprimida nos estreitos limites do desejo humano. No entanto, esse tipo de relação, em que o Divino é medido pelas benesses que concede, não apenas empobrece o significado da espiritualidade como também aprisiona o indivíduo em uma visão de mundo truncada, onde tudo o que é transcendente perde seu caráter absoluto e se torna apenas um meio para fins terrenos.
Essa inversão de valores, onde o Criador se torna acessório e o material se torna o objetivo, é um reflexo de um profundo desvio existencial. Quando a busca pelo Divino se esvazia de sua dimensão genuína e se contorce sob o peso do interesse egoísta, o indivíduo não mais caminha em direção à transcendência, mas retrocede rumo à estagnação. A espiritualidade assim concebida não é mais que um simulacro, uma sombra de sua verdadeira natureza, incapaz de conduzir à plenitude.
Por outro lado, há aqueles que, em meio ao ruído das ambições mundanas, conseguem perceber algo mais profundo: a comunhão com o Divino como fim último e absoluto. Para esses, o Criador não é um recurso a ser explorado, mas o horizonte supremo que atrai a alma em sua jornada. Esse caminhar espiritualista não se define pela negação do mundo, mas pela superação de sua superficialidade. As posses, os prazeres e as honrarias podem surgir como circunstâncias do caminho, mas jamais como destinos finais. O verdadeiro buscador almeja a Fonte, não as gotas; deseja o Sol, não os reflexos dispersos de sua luz.
Contudo, essa perspectiva elevada é rara, e sua raridade é um espelho de nossas limitações enquanto espécie. Muitos se aproximam do Criador movidos pelo temor da perda ou pela esperança de ganho, e, embora tais motivações possam ser um ponto de partida, tornam-se insuficientes para sustentar uma relação autêntica com o Absoluto. Uma espiritualidade fundada no "dá-me para que eu creia" ou no "protege-me para que eu te louve" permanece enraizada no materialismo, ainda que mascarada por rituais e doutrinas. É necessário transcender esse estágio inicial para que a alma, livre de suas amarras, possa contemplar o Divino em sua plenitude.
Buscar o Criador em sua essência é, antes de tudo, reconhecer que Ele não é um meio, mas o próprio fim. Essa busca exige uma entrega radical, uma disposição a abandonar tudo o que é transitório em prol do que é eterno. Não se trata de negar o mundo, mas de perceber que ele é um reflexo pálido de uma realidade maior. Como seres criados à imagem e semelhança do Eterno, somos convocados a manifestar em nós os atributos divinos: amor incondicional, justiça perfeita, unidade inquebrantável. Essa manifestação não é um ideal distante, mas um chamado urgente, uma necessidade que brota da própria essência do ser.
A intimidade com o Criador não se constrói no âmbito das trocas, mas no espaço da transcendência. É um relacionamento que demanda silêncio interior, humildade e a coragem de deixar para trás as ilusões que nos prendem à superfície da vida. Quem busca o Divino por aquilo que Ele é, e não pelo que pode oferecer, encontra, paradoxalmente, tudo aquilo que jamais poderia imaginar. Pois é na entrega ao Infinito que a alma se plenifica, e é na comunhão com o Absoluto que o ser encontra seu verdadeiro propósito.
Assim, o convite que ecoa pelas fibras da existência não é outro senão este: abandonar a cobiça do efêmero e mergulhar no mistério do Eterno. Que cada anseio, cada pensamento, cada ato seja uma oferenda ao Criador, não como um meio de obtê-lo, mas como uma celebração de sua própria existência. Pois Ele é, ao mesmo tempo, a origem e o destino, o princípio e o fim, o fundamento de tudo o que é e a razão de tudo o que pode ser. Buscar a Deus por amor ao próprio Deus – eis a mais elevada de todas as aspirações. E nela reside a verdadeira liberdade.