Mesmo que vivesses 3 mil anos e tantas... Marco Aurélio

Mesmo que vivesses 3 mil anos e tantas vezes quanto 10 mil anos, lembra, todavia, que ninguém perde uma vida distinta da vida presente, tampouco vive uma vida diferente desta que presentemente perde. Assim, a vida mais longa e a mais curta se tornam algo idêntico. Com efeito, o presente é igual para todos e, portanto, o que se perde também é igual; e aquilo que se perde, consequentemente, revela-se como sendo de curtíssima duração, como se fosse instantâneo. De fato, não se perde o que passou nem o futuro, pois como tirar de uma pessoa aquilo que ela não possui? Necessitas lembrar, portanto, estas duas coisas: uma é que tudo o que é egresso da eternidade é de espécie idêntica e tem caráter cíclico, não fazendo diferença nem importando, assim, se alguém permanece em contemplação das coisas apenas por um século ou dois ou por um tempo infinito; a outra coisa é que, quando morrem, a perda é igual para pessoas que viveram o máximo de tempo e para aquelas que viveram o mínimo. Com efeito, o presente é tudo de que se pode ser privado: afinal, tudo o que se tem é o presente, e a perda daquilo que não se possui não é possível.

Marco Aurélio Meditações. São Paulo: Edipro, 2019.