É um grito de socorro, porem este não... Rubens Freire

É um grito de socorro, porem este não há nenhuma voz bradando de nenhum local, não a timbre, nem oitavas, nem mesmo sussurros, ninguém as ouviriam mesmo estando na calmaria em alto mar numa madrugada fria diante de um silencio repugnante, nem com todos os motores do barco desligados, e com todos a bordo já dormindo, nem assim o capitão em seu leme controlando sua respiração conseguiria escuta-las... É o grito maior que existe, por que mesmo os pulmões se enchendo de ar, e o diafragma se contraindo desesperadamente, a boca se abrindo ao máximo, este grito não sairia, não sairia porque ele é muito maior do que aquela cavidade, gritos baixos se resolvem com uma noite demasiada, mas os gritos dolorosos saem tão ofegantes que os que a ouvissem não teriam nem tempo de ajudar sem julgar o próprio de já está enlouquecido pela loucura de acumular tantas desgraças em seu peito , como se para as pessoas o juiz daquela alma já estivesse decretado à sentença, condenando aqueles olhos a ficarem voltados para o horizonte dia e noite, com o corpo travado dentro de um universo doentio, aprisionado naquela cadeira confortável de varanda que para o enlouquecido não saberia se quer diferenciar de uma de madeira pura, mesmo o corpo estando lá parado, o grito já estaria livre vagando em frente aos olhos da família, dos amigos, dos colegas, o grito estaria rindo de todos aqueles que viveram ao lado do angustiado e foram egoístas demais em não perceber a tempo o maior grito que existe, o grito sem voz.