O preconceito nunca vem da própria... Dienis Soares de Souza

O preconceito nunca vem da própria pessoa, mas do olhar do outro.
Uma pessoa nasce sem uma perna no meio de muitas que tem duas pernas. Ela é vista como anormal, castigada, sofrida. Os olhares apontam pra ela direcionando energias de pena, compaixão, dó, estranhamento, repulsa etc. O organismo dessa pessoa já vem preparado para se suprir em outras áreas, como ter maior força de vontade, ou inteligência, força física, bondade, compreensão, ou qualquer outra característica que se sobressaia, mas ela é vista como anormal porque não está dentro do padrão considerado normal pela maioria que possui duas pernas. Ela já começa a sofrer com a falta de uma perna. Ela tem limitações, é claro, mas a falta que sente nada tem a ver com isso. Ela sofre porque começa a achar que, se tivesse duas pernas poderia correr a maratona. Mas no fundo ela nem liga pra correr. Seu corpo está adaptado para ela fazer as coisas dentro de seus limites. Mas como todo mundo pode correr a maratona e têm dó dela, ela também fica com dó e começa a tentar se superar pra provar que é igual. As pessoas até reconhecem isso, mas logo voltam pras suas vidas.
Agora imagine duas pessoas que nasceram em uma ilha. Foram trazidas pra lá e cuidadas por seres fantasmas. Uma cresce com uma perna e a outra com as duas. Elas só reconhecem a si mesmas. Quem é a anormal? A de uma perna pode entrar em buracos que a de duas não consegue, entre ter outras habilidades. Quem é o anormal?
O problema nunca será a ilusória limitação do outro, mas o não reconhecimento de que aquele outro é perfeito como é, que dentro do que ele é, dentro de suas características, ele pode fazer qualquer coisa.
Muitas pessoas têm se sentido mal por não serem como as outras eleitas por elas como exemplo de vida. Não sou rica. Não sou magra. Não sou bonita. Não sou ruiva. Não sou branca. Não sou negra. Não sou empoderada. Não sou boa. Não sou suficiente!
Parece que existe uma elite secreta que sai soprando nos ouvidos do povo o que é ser certo e o que é ser errado. Essas falas vão passando de ouvido em ouvido como um telefone sem fio. Alguns tentam se adequar ao novo padrão, outros não conseguem e se sentem tristes. A regra da vez é ser anti-comunista, ou vegetariano, ou espiritualizado, ou diplomado, ou ir pra Disney, ou postar fotos bonitas no Instagram. Todos tentam se adequar.
Todos sentem uma falta, um vazio a ser preenchido pela nova moda do mês, afinal os olhares e julgamentos externos doem muito. Mas mais pobre é quem julga e não vê a completude no outro.