Sinbad, o Marinheiro Na cama não pude... Willian Silvers

Sinbad, o Marinheiro


Na cama não pude ficar esperando, como se o senhor regente dos domínios oníricos das Terras dos Sonhos se tivesse esquecido de me inebriar esta noite, com as areais do torpor.

Logo antes do crepúsculo estava eu a olhar a lua em toda sua majestade, abençoando os mares noturnos com sua altivez reluzente, e imaginando que lá de onde exerce seu reinado ela é um elo de ligação entre todos que testemunham suas bênçãos.

Não importa a distância, se é noite todos a podem contemplar, sem qualquer tipo de discriminação; e se assim o é, há quem encontre consolo no luar quando os amados partem em jornada para longe.

Os primeiros raios de sol da alvorada enfim prenunciam o dia que acabara de nascer. A vermelhidão que divide a noite e o dia se ausenta dando lugar a um céu azul radiante, povoado por pequenos aglomerados felpudos de nuvens brancas.

Com o alvorecer, o ímpeto de meus sentimentos proclamam essa uma manhã de encontros e despedidas. Oportuna se faz a idade adulta, quando os jovens se candidatam à aspirantes de marinheiros, com o que esperam conquistar grandes aventuras, repletas de fama e glórias.

Em mim não há lugar para o desjejum, é como se meus órgãos brigassem por espaço com toda a ansiedade que comporto em meu ser e meu estômago parece estar perdendo; trêmulo, se paro um segundo e observo o silêncio, tudo o que posso ouvir é a sanha de meu coração, a lutar na guerra por espaço, bumbando como um tambor de rituais bélicos, dentro de meu peito.

No porto, a brisa úmida e salgada da enseada sopra encantada pelos deuses dos ventos do norte, que são conhecidos pelas grandes salmouras de suas moradas.

As ondas lutam contra o velho cais de madeira das docas, pode-se ouvir ao longe o som de suas investidas.

O vento tece a água, que espirra das colisões, em minúsculos cristais, e ao serem atravessados pela luz do sol cintilam em mágicos arco-íris.

As grandes embarcações movimentam as águas: imponentes, lustrosas, com belas carrancas ornadas na proa. Seus mastros seguem aos céus, de onde pendem velas brancas e infladas como pulmões pelo vento.

Depois de longa viagem: terra firme; atracam para breve estadia, seus transeuntes se atropelam, num vai-e-vem frenético, trazem e levam cargas, há navios comerciais e de transporte, e Chronos não parece ser amigo dos que ali se encontram, pois a pressa parece ser a única senhora de seus templos.

O dia mal havia nascido e eu atropelava as horas, pois era chegado o momento. Tempo de embarcar, de ceder aos senhores do amanhã o meu devir: que usem o fôlego de seus pulmões e soprem as velas do destino rumo ao horizonte, onde o sol mergulha no mar até se apagar na água e dar lugar a noite.

Chegou o dia dos planos de deixar o porto, onde nascera e de menino me tornara homem, por terras desconhecidas além-mar.

Tornar-me-ei em um marinheiro mas é apenas o começo de minha ânsia.

O mundo é tão grande que nenhuma carta marítima sabe dizer ao certo o quanto, logo, ainda que navegasse todos os mares não os poderia conhecer como gostaria.

Contudo, de certa forma, para mim, tal fato não importa, o que diz respeito as Moiras somente diz respeito a elas, ocupo-me do que posso fazer agora. E, agora, resta-me isso: navegar.

Com o tempo, no entanto, os Oceanos, suas dádivas e tormentos, conhecerei. E a sabedoria de um lobo do mar, que conheceu muitos povos, viu muitas terras e águas, desbravou-as e então voltou, portanto, em mim há-de fazer morada.