Faz de mim o que quiser Devia ser mais... Thaylla Cavalcante

Faz de mim o que quiser

Devia ser mais uma fatídica quinta-feira
Imersos na monotonia
Sem desejo
Sem rimas ou vocábulos
Sem eira nem beira
Mas acabei entrando
No teu universo de estragos
Agora sou só mais uma faísca
Queimando na tua fogueira

Sentada imóvel no banco do teu carro
Eu vislumbrava a estrada
A mim, tu nada falava
Minhas narinas se enchiam com o cheiro do desejo mascarado

“Decide!”
Eu não sabia
Ainda não sei
“Só dirige, por favor...”

A estrada parecia interminável
Por favor, só encosta a droga do carro
Não me olha desse jeito
Não segura os meus cabelos
Não chega tão perto

Você me puxou pelos braços
Como quem pega uma criança no colo
E eu aterrizei no solo
Quente das tuas pernas

Nossas mãos pareciam telas
Pintando o mais belo quadro
E eu esquecia daquele pecado
Me perdendo entre as grandes das celas
Da nossa prisão

Nossas respirações se entendiam
Era impossível manter a calma
Tu me transcendias a alma
E nossos corpos, colados, se liam

Teu cheiro me enchia as narinas
Como cocaína a me viciar
Minha boca percorria-te cada centímetro
Sem pensar em exitar, eu não podia pensar

Olha, eu sei que não é certo
Mas eu estava tão maleável
Minha boca implorava por um cigarro
Ou pelo teu corpo, no meu encaixado
Me arrepiou do corpo, todos os pelos
Eu sei, sei que não é certo

Você me trouxe pra perto
Tão perto, tão sua
Tão inconsequentes, ainda que no meio da rua
Tão perfeito quanto incerto

Seus dedos deslizaram pelo meu rosto
Por trás da orelha, meus cabelos depositando
Eu senti que estava hesitando
Mas você continuava firme, ali no teu posto

Teu gosto quente na minha boca
Teus apertos ao longo de minha pele
“Por favor, não apele.”
Você ria como se eu fosse louca
E eu seria se parasse

A cada beijo, minha respiração dificultava
Testas coladas, suadas
No frio do ar-condicionado
Dois loucos ofegantes
Eu era insana
E você brilhava
Emanando uma luz tão própria, tão sua
Que incendiaria a droga do carro
O mundo, todo o espaço
E tudo que no nosso caminho entrasse

O ar-condicionado e o frio da escuridão
Não mais bastavam pra apagar
A brasa e o fogo que insistiam em queimar
Aquecendo aquela abastada dimensão

Eu sou fogo, você é brasa
A gente não se repele
Não se expele
Não se apaga
Quando vôo,
Você está em cada pena constituinte da asa

Te conheço como sinônimo de liberdade
Porque despe-me de roupas e de vaidade
Você me faz voar
Enquanto me joga no banco e me beija
E nem importa onde eu esteja
Ali, no meio da estrada
Eu só precisava te amar

Rasgaria tudo que te cobre se pudesse
Te olharia nos olhos,
No fundo dos teus castanhos vibrantes
Com os meus, insinuantes
E faria o que você quisesse

Mas há uma compostura a ser mantida
Uma verdade que se deve omitir
Tanto sentimento a subtrair
Olha, garanto que estou aqui
Tentando descobrir como não enlouquecer
Como seguir normalmente esta minha vida
Sem pensar em você
E em como fazes pra me atrair

Eu não sei
Fracassei em resistir
Em entender
Em me conter
E em não sentir
Quero-te
Sou tua

Faz de mim o que quiser.

Thaylla Ferreira Cavalcante {A}