"GRAÇAS A DEUS" CRÔNICA... Nemilson Vieira de Moraes

"GRAÇAS A DEUS"

CRÔNICA

Estejam sempre alegres, orem sempre e sejam agradecidos a Deus em todas as ocasiões. Isso é o que Deus quer de vocês (1 Tessalonicenses 5:16-18).
“Cobra de vidro”, como era conhecido não saia do bar de Betinho, tomando pinga com mel...
O irmão João e a irmã Maria, seus pais, viviam intercedendo a Deus por ele para que o Senhor usasse de misericórdia e o libertasse daquele maldito vício.
Mas, Jucélio só pensava “nela” na bebida.
O levei à igreja evangélica no Céu Azul, num certo domingo de abril, onde participamos de um culto abençoado.
A pregação daquele dia tocou-lhe bastante.
Falava do “amor de Deus que pode nos tornar mais fortes para enfrentarmos os problemas da vida."
Depois do sermão, o pastor regional fez o apelo aos visitantes, que ainda não professavam uma fé:
“Caso haja em nosso meio,alguém interessado em seguir o caminho maravilhoso de Jesus se manifeste!”
Jucélio, já envolto em lágrimas, não resistiu o apelo, e levantou as duas mãos em sinal de aceitação a Jesus, como Salvador de sua alma.
Mas, ele não rompeu muito tempo na fé cristã, e voltou para o “mundão”.
Começou novamente ser visto nos ambientes mundanos.
Gente boa o Jucélio! Trabalhador e muito prestativo. Tínhamos uma boa afinidade.
Quando nos víamos era uma alegria só. E me cobrava uma visita à casa de seus pais para conhecê-los.
Jucélio, mais recentemente, fez a opção de morar nas ruas do bairro onde foi criado;
em “malocas” com os seus antigos companheiros de bebida.
Já estava usando armas. Na última vez que nos encontramos foi na praça da igreja matriz, do bairro Lagoa, região de Justinópolis.
Depois dos nossos cumprimentos, puxou da cintura uma enorme faca de aço inoxidável de 12’ polegadas, que clareou na luz do dia, ofuscando a minha visão.
Pedi a ele que guardasse aquilo, pois era perigoso se cortar com ela e também poderia ter algum policial o observando.
Atendeu o meu pedido, e voltou com a lâmina fria, para a cinta, sem bainha mesmo.
Ainda que vivendo a perambular, não deixou de me convidar a visitar seus pais.
Desta vez, não me foi possível resistir; e fui com ele fazer aquela visita.
Parece que seu velho pai, o irmão João, nos aguardava, e nos recebeu no portão, com alegria.
Quando o cumprimentei com a “paz do Senhor” como usam fazer os santos, ele respondeu-me com um “graças a Deus”. E nos convidou a entrar na sua humilde residência.
Como uma boa mineira a irmã Maria, nos ofereceu queijo fresco e cafezinho feito na hora, com uma fumaçinha subindo da beira da xícara.
Na despedida, seguindo um velho costume ainda muito usual no seguimento evangélico, li um texto na bíblia sagrada e oramos coletivamente antes de seguir meu caminho.
O irmão João não conseguia dizer palavras alguma, em diálogos que tentava fazer, a não ser “graças a Deus”.
Então, despedi-me dos demais, e o irmão João, muito cortês, acompanhou-me até o portão;
ao despedi-me dele com a paz do Senhor, novamente ouvi da sua boca, o último “graças a Deus” da sua vida.
Tempos depois, encontrei-me com o seu neto:
- “Roger, outro dia estive na casa do seu avô e tudo que ele ia falar só saia “graças a Deus” da sua boca, eu fique preocupado com aquilo.
- Te explico:
tempos atrás ele sofreu um fulminante Acidente Vascular Cerebral (AVC), e, esse problema de saúde afetou a sua fala e memória, de tal maneira que ele esqueceu-se de todas as palavras que você possa imaginar; menos o “graças a Deus”.
Aquela expressão de gratidão do irmão João, o acompanhou ao túmulo.
“Quão grandioso é o nosso Deus!” A sua "graça", na vida de seus servos, atrai os pecadores a Cristo. Por isso, ela deve sempre está presente na vida do cristão.
A doença poderá tirar todas as palavras da mente de um salvo.
Mas, neste caso especial, ela não pôde tirar a palavra de agradecimento "graças a Deus" da cabeça do irmão João;
porque ela não estava mais lá, e sim no coração.
A grata palavra a Deus é o que fica!
Graças a Deus!

- 07.09.16.