Conversa (des)afinada - Dúvidas Não... alexandru solomon, escritor

Conversa (des)afinada - Dúvidas

Não sinto a menor simpatia – para usar um eufemismo ¬– para os envolvidos na Lava Jato.
Para minha tristeza, não vejo como poderão ser pegos.

Em primeiro lugar rebaterão com indignação todas as acusações, frutos da direita reacionária e de da mídia golpista a ela subordinada.

Em segundo lugar, tomemos um deles. O Exmo X.

Alma impoluta, desejava apenas ser competitivo nas eleições. Sem dinheiro para financiar aqueles vídeos imbecis para os quais não conseguiu aprovação de projeto da lei Rouanet. –Aqueles vídeos são arte pura, ou não? O que fazer? Soube o Exmo. X da existência de um senhor Sérgio Machado, presidente de uma subsidiária da Petrobrás (não vamos ser antipáticos e aludir à Presidente do Conselho de Administração – o petróleo é nosso e somos autossuficientes). Pois esse S.M consegue persuadir Oderbrechts e outras Engevix a financiar campanhas eleitorais. Pronto, basta pedir. Ele entrega a grana ao comitê eleitoral, à tia do político, pouco importa. Esse dinheiro será registrado no tribunal Eleitoral. Por sua vez o Tribunal não possui faro para identificar grana suja. Vespasiano já dizia. Pecunia non olet. A grana não tem cheiro.

Pois então. Exmo X sai assobiando. Está tudo dominado. Por qual razão as empreiteiras irrigam contas oficiais e outras nem tanto Exmo. X não sabe e tem raiva de quem sabe.

Na sua ingênua visão do mundo Exmo X fica constrangido em recusar alguns depósitos em paraísos fiscais... ele é apenas um stranger in the Paradise... fiscal, tudo bem.

Diante da delação de empreiteiras pegas de calças curtas – moda em voga no Tirol – Exmo. X reage com indignação. Ele não sabia. “Mostrem-me onde assinei recibo de propina”.

Caixa 2? O que vem a ser isso?

Vêm uns cretinos arrependidos e confessam superfaturamento de obras públicas? Isso não é comigo. Trata-se de aditivos de contratos prevendo reajustes devido à inflação, aos dissídios da mão de obra, a exigências de ambientalistas, mas está tudo contabilizado. Exmo. X manifesta sua indignação ante esses juízes que exigem delação de presos. Que absurdo! Essas delações não passam de manifestações de alergia de indivíduos claustrofóbicos que não se ambientam em celas. Aversão ao xilindró, nada mais. Por que estão lá? Problema deles.

Coroando essas manifestações, Exmo X declara que está à disposição da Justiça, como se houvesse alternativas! Mais ainda, abre mão do seu sigilo, fiscal, telefônico, bancário etc, como se pudesse deixar de fazê-lo caso um juiz assim determine. E como se essa grana tivesse circulado em contas correntes de bancos em atividade em Pindorama. Vamos nos entender, ninguém possui dinheiro fora dessa terra onde cantarola o sabiá. Se acharem é de quem achou. Paraísos fiscais? De novo?

Ah, sim, alguns gastos incompatíveis com as remunerações? Exmo X sempre foi um exímio poupador e realizou negócios bem-sucedidos, incluindo, mas não limitados a ganhos na Loteria, vendas de gado, heranças de tios distantes etc.

Eis porque não haverá pizzas, pois a mozarella em excesso favorece o crescimento do colesterol, mas haverá longos e inúteis debates, receio eu.

Mas já há alguns condenados, dirão. Alguns já estão atrás das grades. Certo. Mas no fim, haverá apenas uma demanda de tornozeleiras eletônicas – com alto conteúdo nacional, esperemos. Ah sim, Marcos Valério cumprirá décadas na prisão.