A coisa. Fico tentando imaginar. Pode ser um surto de raiva que a...

A coisa. Fico tentando imaginar. Pode ser um surto de raiva que a faz gritar e babar. Ou pode ser um exílio voluntário, ficar dias trancada no quarto sem responder a ninguém, sem atender telefonemas. Pode ser um ataque de tirania. Uma greve de silêncio. Mais ou menos isso: ausentar-se sem explicação quando mais necessitam dela, ou existir além da conta. Um estado de não-normalidade. Ficar possuída. Pelo demônio? Pelo exu? Por uma alma penada?

Pela "coisa".

Felizmente nunca assisti à "coisa" dela em ação, talvez até seja lenda. Mas que "a coisa" existe, não tenho dúvida. Todos nós temos que lidar com "a coisa" de vez em quando.

Namoradas, em geral, têm "a coisa". Sua garota é totalmente doce, uma criaturinha do bem, quando de repente extrapola no ciúme, tem visões, acredita que você e aquela lambisgóia de camiseta verde no meio da platéia do show do Armandinho estão trocando olhares, e você nem consegue descobrir se a tal lambisgóia vale a pena, porque tem 10 mil pessoas ali, sendo que 7 mil são mulheres e 2 mil estão de camiseta verde. Sua namorada teve "a coisa". Agüente que passa.

E você? Você já perdeu parentes queridos, perdeu amigos, perdeu empregos e segurou a onda, agiu civilizadamente. Aí seu time cai pra segunda divisão e você pira. Passa três dias sem tomar banho, não come, não dorme, é agressivo com todos, principalmente com crianças, idosos e gestantes. "A coisa" se adonou de você.
Outro exemplo? Você está no meio de uma festa lotada, com aquele som bate-estaca insuportável e o ar-condicionado quebrado. Danou-se, "a coisa" começa a dar sinais de que está vindo. Veio. Torça para que "a coisa" faça você sair empurrando todo mundo até alcançar a porta de saída e pegar o primeiro táxi que passar, mesmo ocupado. A outra opção? Você tirar a camisa e dançar feito uma go-go girl no meio da pista.

Eu nunca tive "a coisa". Sou irritantemente controlada. No máximo altero a voz ou, que vexame, choro! Bem mulherzinha. A "coisa" não é para amadores. A "coisa" invade e se manifesta sem piedade. Se você nunca teve, é porque nunca chegou ao seu limite.

A "coisa". Um dia você vai ter uma. E talvez não demore. Começou o horário eleitoral.