Ela pegou Freud, sentou, acendeu o... Kevin Martins

Ela pegou Freud, sentou, acendeu o cigarro e comentou comigo:
- Isso ta parecendo a cena do Titanic, onde Jack senta, cruza a perna, como você, analisa Rose (cerrando os olhos) e a desenha...
Isso que me resta, agora, é a minha arte. É a forma que expresso a alma. A forma em que os diálogos não seriam capazes de fazer.
Oh, Deus! Como eu queria ter palavras para descrever tudo isso. Nem o céu seria alto o bastante para voar como agora.
Era impressionante o que aquilo dizia aos meus poros. Eu me arrepiava toda vez que pensava em tê-la na vida.
Toda música que tocava - as clássicas que sempre ouço para ler e escrever - parecia fazer todo sentido. Tudo parecia ter sentido. Até mesmo a morte.
Eu que sempre sonhei em ganhar a vida escrevendo, agora só queria estar em seus braços. Assim eu ganho a vida. Assim eu quero sempre ganhar a vida.
Oh, Deus! Se a gente vivesse de amor, eu seria o mais saudável dos homens. Eu seria o mais afortunado de todos eles - mas ainda acho que sou o mais afortunado deles.
Ela lia tudo aquilo, como se bebesse a cerveja que recém tínhamos tomado. Era fácil, simples, sereno, dócil. Freud se sentiria honrado. Tenho inveja dele, nesse momento.
Minha gata se deita ao lado dela. Sabe onde é confortável e parece sentir que precisa cativar a mulher que tanto quero na vida.
Eu já tive mais palavras para as paixões. Viver é diferente de falar. Sentir é diferente de falar.
E, meu amigo, o que mais tenho feito nos últimos tempos, é sentir o que jamais algum homem será capaz de explicar.