Cálice Hei -me aqui na penumbra da... Kaw Lima

Cálice

Hei -me aqui na penumbra da noite.
Nem sei que hora bate no relógio, se
Uma, duas, quatro ou três da madrugada.

Hei-me nesse canto, aqui, acolá
Me pondo da sala pro quarto a andar.
Do livro que tenho, de algumas linhas
Não pude passar.

Sento agora no velho sofá,
Cor de sangue, como as lágrimas que,
De quando em vez, não consigo segurar.
Já me arrasto de lá para cá, na lembrança
Da moça que sem pensar, pus-me a matar.

Bebi do cálice, das incertezas
E, ao mal dei lugar, delirei, a matei sem dó.
Não ouvi o seu chorar doído, como criança a clamar.
Sim, bebi do cálice maldito e comi da sopa do inimigo
Servida num prato de nó.

Fiquei gorda, empanturrada de insanas besteiras.
Fui um tolo, sem paz, um péssimo jogador.
Acreditei piamente que me traía, aquele amor.
Não vi a razão, encontrei na loucura,
Um lugar sem fronteira.

Ahh.. Como pude não ouvir aquele choro,
Como pude não pegar em sua mão,
Não olhar nos olhos dela,
Não cumprir o prometido?

Como pude dar lugar, ao medo, a ilusão?
Se era eu o homem em nossa cama,
Como poderia ela me afrontar, se
Tudo o que meus olhos pediam,
Era dela concordar.

Ainda vejo, aqui a mão sua, o seu esforço.
Na mesa do canto, no som da música a voar.
Nas marcas entranhadas no colchão, na pele,
Na alma, a sua ausência, lamentar, nas noites
De luar, quando a moça, corria para a janela
E ponhava a me chamar.

Olha a lua, é cheia, amor.. Que linda que está!

Não existe lua mais bonita que aquelas
Que ao seu lado pude apreciar.
Nem essa que a saudade, vem mostrar.


Se não me rasgasse inteira, o silêncio
Quando encontro seu olhar, algo divino, com ela teria pela vida toda, não posso negar!

Nessas horas o silêncio vem espicular,
Um pouco daquele jeito de olhar.
Será que ainda é de ódio, escarnio,
O desprezo que sublinhei,ou de desespero
Porque a golpei?

Foi no mesmo golpe de incertezas que, provei,
Esse gesto que no fundo matutei.

Ó que atimia, caí sobre essa madrugada!
Que quase sempre segue, além da alvorada.
Na falta da namorada, da mulher,
Que vinha desconfiada,um riso de criança
Me tirava e em nossa cama me abraçava.

Bebi da maldita, me arrependo!
Entreguei seu corpo em sua porta,
No final, da tardinha que sumia.

E sob a lua que ainda lumia
Me apartei dela que ia...

Daqueles dias que eramos dois sóis,
Dado a minha covardia,
Não guardo nem fotografia
Ó.. Quando a encontrarei,
Quando serei de novo um rei,
Uma rainha?

Não sei que hora bate no relógio,
Se uma, duas, quatro ou três,
Se é noite, se é dia.
Invento risos para fugir da agonia.

Se é uma, duas, quatro ou três, não sei.