Qual a forma certa de amar? Há dias,... Cachecol Azul

Qual a forma certa de amar?
Há dias, com uma folha em branco a frente dos olhos, tento escrever a respeito dessa grande indagação.
Vivemos em dias de extremos. De banalizações ao infindável mundo de conceitos recém criados. São dias que não são pra qualquer um.
E há quem se encaixe em dizer que após dois dias num aplicativo de paquera qualquer, que já é amor o que nutre no peito por seu alvo. Nem a alface cresce em dois dias. E de alface eu entendo.
E há quem brigue como uma guerra de foice quero amor é um deslumbre. Com os poetas da antiga terra parisiense…
Há quem diga que amar é sofrer. Delegacias trazem números e mais números e, cálculos e mais cálculos são feitos diariamente a esse respeito.
Afinal, o que é amar?
Talvez pro filho que não vê o pai nem saindo de casa e nem voltando pra casa, qualquer conversa sobre dinheiro e pão na mesa, se torna bem estúpida.
Mas talvez a visão muda para o pai que acorda as 5 da manhã e todos os dias só consegue ver o filho dormindo. Que precisa pegar três conduções cheias de outros pais e mães que também estão fazendo o que podem para não deixar o pão na mesa faltar.
Afinal, o que é amar?
Para a amiga adolescente, amar é passar todo o tempo junta da outra amiga adolescente e não se opor a absolutamente nada do que é feito.
“Se você contar pros meus pais que eu bebi, você não é minha amiga! Você me ama? Então não conte”.
Ou amar é justamente ter esse tipo de conversa:
“Tia, a beatriz tem bebido demais e eu não sei mais o que fazer com ela. Eu a amo. Preciso da sua ajuda.”
Amar pra alguns é ir pra cama na segunda feira e na terça feira e na quarta feira e na quinta feira e na sexta feira e no sábado e no domingo.
Para outros, a companhia de ter mãos com dedos levemente trançados enquanto se lê um bom livro.
Lulu Santos já deve ter pensado nisso, mas preferiu musicar e simplificar tudo isso em uma única frase: Consideramos justa toda a forma de amor...
Eu tenho um problema com coisas simplificadas então quero relatar aqui a minha forma de amor.
Vi um casal na rua que me inspirou a escrever sobre isso.
Era um casal de idosos. Ele beirava uns 89 anos e ela não me parecia ter menos que isso.
Os dois estavam atravessando uma rua movimentada da minha nova cidade.
Ele cuidadosamente a ajudava a atravessar a rua. A segurou pelo braço e assim que prestei atenção nela, vi que o tempo havia trazido uma longa curva sobre os ombros. A corcunda do tempo...
Ele com os olhos amarelados pelas possíveis cataratas, se fazia atento a tudo a respeito dela. E então para minha surpresa, assim que ela pisou na calçada, ela se virou totalmente pra ele, para ajudá-lo a subir também...
Eu diminuí minha marcha para que a minha pressa não me impedisse o deleite de ser agraciada pela expressão mais clara pra mim sobre o tema amor.
Amar é suportar e tolerar.
Paulo, um dos apóstolos de Cristo também me entenderia quando inspiradíssimo, escreveu no livro de Primeiro Coríntios, versículo 13 sobre o amor.
Como pode? Uma mãe tolerar a dor de sair tão cedo de casa, do gueto, para lavar roupas para uma madame rica do outro lado da cidade?
Como pode? Uma irmã mais velha, se tornar mãe, pai e suportar o esquecimento de ser filha, porque há muitos pequenos para cuidar enquanto essa dona mãe esfrega, passa, lava...
Como pode? Um filho se esforçar entre becos e drogados, entre tiros e culpados, para se formar em medicina pensando que assim, poderá assistir melhor sua comunidade carente.
Um filho da pátria vivendo honestamente entre tantas propostas. Afinal, o que quer deixar de legado para os seus?
Amar vai além do romance. Amar é racional.
Amar é se querer o bem. É pensar no outro, como gostaria que pensasse a seu respeito.
Num mundo de espertos, ser amor é meio fora de contexto.
Mas é a única força que pra mim deveria mover o mundo.
Ao menos, o mundo de alguém verdadeiramente.